Bolsonaro tenta vender relógio de ouro oferecido ao Brasil pelo Rei da Arábia Saudita
Tentativa foi descoberta pela comissão de inquérito do Congresso que apura atos de Bolsonaro, assessores e apoiantes contra a democracia e as instituições.
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter tentado apropriar-se de joias avaliadas em milhões de euros oferecidas não a ele, mas ao Brasil em viagens oficiais, tentou vender pelo menos uma delas, um relógio da marca Rolex em ouro cravejado de platina e pedras preciosas, oferecido pelo rei da Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz Al Saud.
A tentativa de vender ilicitamente um bem público foi descoberta pela comissão de inquérito do Congresso que apura atos de Bolsonaro, assessores e apoiantes contra a democracia e as instituições, e tem base probatória em mensagens eletrónicas trocadas em junho do ano passado pelo então ajudante-de-campo da presidência, tenente-coronel Mauro Cid, atualmente preso, explicando a uma interessada estrangeira no negócio não possuir certificado de origem da joia por se tratar de um presente oficial.
"Nós não temos o certificado deste relógio, pois foi um presente recebido em uma viagem oficial. O que nós temos é um selo verde do certificado que acompanha o relógio, mas eu posso garantir que o relógio nunca foi usado", respondeu o militar às perguntas feitas por mensagem, em inglês, por uma mulher que queria ter a certeza da origem da joia, pela qual o tenente-coronel Mauro Cid pediu o equivalente a 57 mil euros, e que argumentava que relógios em ouro e pedras preciosas eram difíceis de comercializar devido ao elevado valor e que precisavam ter garantias.
Durante uma das várias viagens que ele e assessores fizeram à Arábia Saudita, país pelo qual o então presidente brasileiro parecia ter particular interesse não obstante as relações comerciais e políticas entre os dois países não serem assim tão significativas, Bolsonaro foi presenteado com um Rolex pelo monarca saudita num almoço em outubro de 2019. O pacote com os presentes milionários incluia, além do relógio, uma caneta e um anel masculinos e um tipo de rosário islâmico, tudo em ouro cravejado de pedras preciosas.
Além do estojo recebido nessa ocasião, Jair Bolsonaro e a mulher, Michelle Bolsonaro, receberam diversos outros pacotes com joias de milhões enquanto ele esteve na presidência do Brasil, presentes recebidos pessoalmente na Arábia Saudita ou entregues em mãos em Brasília por emissários do rei ou do príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman, ou transportados do reino árabe para território brasileiro de forma ilícita por ministros e assessores presidenciais.
Mesmo antes de se saber desta tentativa de venda de um dos presentes oficiais pelo ajudante-de-campo de Bolsonaro, que, foi ponderado na comissão do Congresso, não tentaria fazer o negócio sem ordem do presidente, o Supremo Tribunal investiga a tentativa do ex-governante de se apropriar de milhões em joias oferecidas oficialmente por outras nações não a ele mas sim ao Estado brasileiro, e que não foram declaradas pelo governo de então para serem incorporadas ao património público, como manda a lei.
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