Conselho Superior da Comunicação Social considera sinal grave incêndio no jornal Canal de Moçambique

"Ataque mancha o tom celebrativo das liberdades fundamentais", denunciou o presidente do CSCS Tomás Vieira Mário.

27 de agosto de 2020 às 12:49
Maputo, capital de Moçambique Foto: Reuters
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O presidente do Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS) de Moçambique considerou esta quinta-feira que o alegado ataque ao semanário Canal de Moçambique "é um sinal grave" contra as liberdades fundamentais no país.

"O ataque ao Canal de Moçambique é um sinal grave que mancha o tom celebrativo das liberdades fundamentais", disse Tomás Vieira Mário, em declarações aos jornalistas.

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O presidente do CSCS falava à margem do lançamento das celebrações dos 30 anos de democracia multipartidária em Moçambique.

As instalações onde funcionam o Canal de Moçambique e o jornal 'online' Canal Moz ficaram destruídas no domingo, na sequência de um incêndio que a direção do semanário atribui a fogo posto.

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Para o presidente do CSCS, um ataque a um órgão de comunicação social é contra "todo um sistema democrático", porque a imprensa é um dos seus pilares. "Sem ela [imprensa] ninguém pode falar livremente, e se ninguém poder falar livremente não há democracia", disse, acrescentando ser um ato "inadmissível".

O ataque, continuou, indica que "alguém perdeu a batalha das ideias, do debate e se sente vencido e recorre à barbárie", acrescentou. "Isso é sinal de que a imprensa está num bom caminho, está a dar luta forte, porque em democracia o que conta é o debate de ideias".

Por seu turno, Lutero Simango, chefe da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro principal partido no país, classificou como "terrorista" o incêndio que aconteceu na redação do semanário.

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"O ataque ao jornal Canal de Moçambique é um ato terrorista que visa intimidar não só o Canal de Moçambique", disse, acrescentando que se trata de "uma ameaça à liberdade de imprensa".

"Qualquer ato que visa silenciar as vozes e o direito à informação, temos de considerar como um ato que viola a Constituição da República", afirmou.

Segundo a direção do jornal, desconhecidos atearam fogo à redação do jornal na noite de domingo, tendo sido encontrados bidões no interior da redação, um dos quais ainda com um pouco de combustível.

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Os autores do incêndio terão introduzido os bidões de combustível no interior das instalações do jornal, depois de arrombarem a porta frontal da casa.

Várias entidades nacionais e internacionais já condenaram o incêndio à redação do Canal de Moçambique.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também condenou o acontecimento e exigiu que os autores sejam levados à justiça.

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O Canal de Moçambique é um dos principais semanários do país e tem-se destacado por trabalhar em matérias como corrupção e governação.

O jornal já foi várias vezes alvo de processos judiciais por alegada calúnia e o seu editor-executivo, Matias Guente, foi recentemente intimado pela Procuradoria-Geral da República para responder a perguntas sobre textos que o semanário escreveu envolvendo contratos na área de segurança entre o Governo e as multinacionais petrolíferas que operam na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

A polícia moçambicana ainda não se pronunciou sobre o caso.

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