Demissão colectiva dos chefes militares aprofunda crise no Brasil após Bolsonaro demitir o ministro da Defesa

Chefes dos três ramos das Forças Armadas apresentaram renúncia ao novo ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Neto.

Jair Bolsonaro Foto: Direitos Reservados
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A inesperada demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, pelo presidente Jair Bolsonaro numa tensa reunião de menos de cinco minutos realizada esta segunda-feira, teve consequências que nem o chefe de Estado esperava e abriu uma profunda crise no Brasil, nomeadamente entre o governo e as Forças Armadas. Esta terça-feira, num desenvolvimento que não era esperado, os chefes dos três ramos das Forças Armadas apresentaram renúncia coletiva ao novo ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Neto, não aceitando continuar nos cargos sob o comando dele.

A renúncia coletiva apanhou toda a gente de surpresa e é a primeira desse tipo na história do Brasil. Já era esperado que o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, fosse substituído por divergências públicas com o sonho totalitário de Jair Bolsonaro, mas esperava-se que os outros comandantes, da Marinha e da Força Aérea, fossem mantidos, para não se aumentar ainda mais o mau estar nas tropas com a demissão de Azevedo e Silva.

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Mas os comandantes, que se reuniram na noite desta segunda-feira, logo após a demissão de Azevedo e Silva, e novamente na manhã desta terça, antes do encontro com o novo ministro da pasta, decidiram sair em conjunto, num claro movimento de protesto contra Jair Bolsonaro. Fontes do Ministério da Defesa avançaram sob anonimato esta terça-feira que a reunião entre os chefes dos três ramos das Forças Armadas e o novo ministro da Defesa foi muito tensa e acalorada, o que reflecte a crise instaurada nos meios militares com o governo e com Braga Neto, que apesar de também ser um general já há muito é visto nos meios castrenses como um político que não representa as tropas.

Na reunião, ainda segundo as mesmas fontes, os comandantes das três Armas terão deixado muito claro que não estão dispostos a endossar projetos autoritários de Jair Bolsonaro nem a serem usados nos jogos políticos do presidente, que gosta de se referir às Forças Armadas como "o meu Exército", como se, ao invés de, pelo cargo, ser o comandante-em-chefe fosse o dono das tropas. Jair Bolsonaro sempre manifestou inclinações autoritárias, mas esse sonho transformou-se nos últimos meses numa verdadeira obsessão devido às medidas de confinamento e de toque de recolher adotadas por quase todos os estados brasileiros para tentarem reduzir o ritmo do avanço da Covid-19.

Bolsonaro, negacionista feroz, além de não reconhecer a gravidade da doença, que já matou mais de 310 mil pessoas no Brasil e neste momento avança pelo país de forma descontrolada, avalia que essas restrições afetam brutalmente a economia e reduzem muito as suas chances de ser reeleito nas presidenciais de 2022. Derrotado no Supremo Tribunal, a quem pediu poderes absolutos para adotar medidas sobre a pandemia sem ter de negociar com governadores de estado e autarcas, Bolsonaro passou a ameaçar tomar medidas de exceção e até intervir militarmente em estados, mas até esta segunda-feira tinha a recusa de Fernando Azevedo e Silva em participar numa aventura totalitária como essa, o que o fez demitir o titular da Defesa.

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