Ex-polícia confessa participação na morte da vereadora Marielle Franco em 2018 e denuncia cúmplices
Élcio de Queiroz reconheceu ter conduzido o automóvel Cobalt prateado que perseguiu a ativista por várias ruas do Rio de Janeiro no dia do homicídio.
Numa delação premiada (depoimento colaborativo em troca de benefícios penais) à Polícia Federal, o ex-agente da Polícia Militar do Rio de Janeiro Élcio de Queiroz reconheceu ter participado na emboscada que matou a então vereadora de esquerda Marielle Franco numa rua daquela cidade brasileira em 14 de março de 2018. A informação foi avançada pelo ministro brasileiro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, acrescentando que o depoimento permitiu avanços na investigação e o desencadear de uma operação federal que levou à prisão de mais um suspeito esta segunda-feira no Rio.
Dino declarou que na sua confissão, Élcio, preso como suspeito do crime desde 2019, reconheceu ter sido ele quem conduziu o automóvel Cobalt prateado que perseguiu a vereadora por várias ruas do Rio de Janeiro naquela noite, até o ataque fatal ter sido desencadeado numa rua escura e sem movimento no bairro do Estácio. Élcio acusou o amigo e também ex-polícia Ronnie Lessa, igualmente preso desde 2019, de ter sido o autor da rajada de sub-metralhadora contra o carro de Marielle, matando-a instantaneamente e ao motorista dela, Anderson Pedro Gomes.
Também através das denúncias feitas pelo ex-polícia preso, a Polícia Federal desencadeou esta segunda-feira uma grande operação no Rio de Janeiro contra sete alvos para apreender novas provas e prender outros suspeitos. Um deles, o único que teve a identidade revelada, foi o ex-bombeiro (no Brasil os bombeiros fazem parte da Polícia Militar) Maxwell Simões Correa. Suel, como é conhecido, participou, avançou o ministro, em todo o planeamento da trama que levou à morte da vereadora, seguiu-a durante dias para monitorizar a rotina dela e deveria ter sido ele a conduzir o carro dos assassinos, mas foi trocado na última hora por Élcio.
Mesmo com os avanços alcançados após a delação premiada de Élcio de Queiroz, continua sem se saber, ou, pelo menos, sem se divulgar, quem mandou assassinar Marielle e por quê. Desde a época do crime, uma série de versões e de suspeitos foram surgindo e posteriormente desaparecendo numa imensa teia de cumplicidades dentro da própria polícia e de ausência de provas cabais, como a versão que ligava o agora ex-presidente Jair Bolsonaro e um dos filhos, o também vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, às mortes.
O acusado pelos disparos, Ronnie Lessa, morava no mesmo condomínio residencial dos Bolsonaro na Barra da Tijuca, tinha proximidade com Jair e Carlos, que chegou a namorar a filha do presumível assassino, teve uma violenta discussão com Marielle dias antes do atentado. Outro pormenor que aparentemente ligava os Bolsonaro às mortes foi o facto de Élcio, horas antes dos crimes, ter conseguido entrar no condomínio onde viviam Lessa e Jair e Carlos Bolsonaro depois de uma autorização supostamente dada pelo então candidato à presidência, mas depois nada foi provado.
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