Extrema-direita abala política espanhola
Partido populista e xenófobo Vox entra de rompante no cenário político ao eleger 12 deputados na Andaluzia.
O fenómeno populista e xenófobo que já varreu os EUA e parte da Europa aterrou em força em Espanha no domingo, com a entrada de rompante do partido de extrema-direita Vox no parlamento da Andaluzia.
Os populistas, que nas últimas legislativas não tinham chegado aos 50 mil votos a nível nacional, conquistaram quase 400 mil votos na região autónoma vizinha do Algarve, elegendo 12 deputados e ficando com um pé no futuro governo regional. "É só o começo", prometem.
O partido liderado por Santiago Abascal obteve 10,9% dos votos, ajudando ao revés histórico do PSOE, que liderava o governo autonómico há 36 anos.
Ao mesmo tempo, o pequeno partido nacionalista tornou-se quase indispensável para garantir qualquer solução de governo liderada pelo Partido Popular (PP) ou pelo Cidadãos, respetivamente segundo e terceiros classificados atrás dos socialistas, que continuaram a ser a força mais votada mas perderam a maioria absoluta e 14 lugares no parlamento.
"Ficou provado que somos o partido da verdadeira mudança. Se não fosse por nós, seria mais do mesmo", afirmou o cabeça de lista do Vox na Andaluzia, Francisco Serrano, não afastando a possibilidade de uma coligação com o PP e o Cidadãos e deixando clara a prioridade do seu partido: "Não seremos um obstáculo para acabar com o regime socialista", garantiu.
Fundado em 2015 por Abascal, antigo militante do PP, o Vox assume-se como partido nacionalista e defende como principais bandeiras a unidade de Espanha, a erradicação das autonomias e o combate à imigração, incluindo a deportação de todos os migrantes em situação ilegal no país e a "construção de um muro" nos enclaves de Ceuta e Melilla.
Advoga também a supressão de atual Lei do Aborto, da Lei da Violência de Género, que considera "discriminatória" contra os homens, e da Lei da Memória Histórica, que apenas serve para "dividir os espanhóis".
Díaz rejeita saída e pede frente antinacionalista
Resistindo às pressões no interior do seu próprio partido para apresentar a demissão após aquele que foi o pior resultado dos socialistas na Andaluzia em mais de três décadas, a presidente cessante da Junta, Susana Díaz, apelou esta segunda-feira ao apoio dos partidos constitucionalistas para formar uma frente comum para bloquear a entrada da extrema-direita no Parlamento.
"Quero que os outros partidos digam se estão dispostos a deixar que um partido de extrema-direita condicione a futura maioria parlamentar", afirmou Díaz, dirigindo-se diretamente ao Cidadãos, que instou a juntar-se ao PSOE e à coligação Avante Andaluzia (Podemos+Esquerda Unida) para formar "um dique de contenção" contra a extrema-direita.
Um apelo que pode não ser suficiente para salvar a face de Díaz perante o seu próprio partido, que ficou em estado de choque com a possibilidade de perder a única comunidade autónoma onde os socialistas estiveram ininterruptamente no poder desde a implantação da democracia. "Como políticos, todos sabemos sempre qual é a nossa responsabilidade.
O nosso papel está subordinado ao êxito do nosso projeto político e à disposição do partido que, com generosidade, nos deu a sua confiança", vaticinou esta segunda-feira o secretário de organização do PSOE, José Luís Ábalos, apontando indiretamente a porta de saída a Díaz, ao que esta respondeu lembrando que "não perdeu as eleições" e que "é todo o partido que precisa de fazer uma reflexão profunda".
Fã de Marine Le Pen com porte de arma
O líder do Vox, Santiago Abascal, nasceu no País Basco há 42 anos, neto de um ex-alcaide franquista. O pai militou na Alianza Popular, antecessora do PP, e foi nas listas populares que o jovem Abascal se estreou na política.
Eleito vereador em Llodio (Álava) com 23 anos, foi agredido por apoiantes etarras no dia em que tomou posse. Desde então passou a andar armado. Amante das motas e da velocidade, é fã de Marine Le Pen e assistiu a vários comícios da Frente Nacional.
Propostas do VOX Unidade de Espanha
Imigração
Impostos e touradas
Populares admitem negociar tudo menos as autonomias
O Partido Popular admitiu estar disposto a negociar uma possível aliança com o Vox, colocando apenas como limite a Constituição espanhola. "Se querem negociar competências, tudo bem, mas a linha vermelha são as autonomias", asseverou o cabeça de lista na Andaluzia, Juan Manuel Moreno.
Moreno rejeita críticas socialistas
"Democracia ante o medo"
"O verdadeiro perigo vem da esquerda"
O líder do PP, Pablo Casado, desdramatizou o resultado da extrema-direita, afirmando que "o verdadeiro perigo é o Podemos, o partido mais radical da democracia".
"Vamos expulsar o PSOE da Junta"
"Expulsar o PSOE da Junta da Andaluzia" é a promessa do líder do Cidadãos, Albert Rivera, que admitiu uma aliança à direita com o Partido Popular e o Vox.
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