"Fomos perseguidos pelo fogo até ao mar"
Labaredas cercaram habitações e automóveis em menos de dez minutos, na Grécia.
Em menos de 10 minutos o inferno tomou conta da localidade de Mati, popular estância turística às portas de Atenas. Empurradas por ventos de 100 quilómetros por hora, as chamas cercaram rapidamente casas e automóveis, encurralando dezenas de pessoas. Muitas tentaram fugir para o mar mas não conseguiram lá chegar. Famílias inteiras morreram abraçadas a tentar escapar das chamas, que deixaram atrás de si um cenário de horror em tudo idêntico ao vivido há pouco mais de um ano em Pedrógão. O balanço provisório das autoridades gregas é de 77 mortos e 187 feridos, 23 dos quais crianças.
Os corpos carbonizados de 26 adultos e crianças foram encontrados abraçados a poucos metros do mar. À entrada da vila, várias pessoas morreram presas nos carros quando tentavam fugir. Noutro local, outras quatro vítimas estavam debaixo de viaturas, onde tentaram esconder-se das chamas.
Segundo testemunhas, o fogo avançou com extrema rapidez. Num momento, estava no alto das colinas e menos de 10 minutos depois já estava junto às casas, cortando todos os caminhos de fuga. A única alternativa era tentar chegar ao mar, mas nem isso serviu de salvação para muitos. Três mulheres e uma criança morreram asfixiadas pelo fumo já dentro de água. Outras 10 pessoas morreram afogadas quando o barco que as resgatou se virou. Durante toda a noite, dezenas de barcos retiraram sobreviventes das praias em redor de Mati, salvando cerca de 700 pessoas e evitando uma tragédia maior. "Fomos perseguidos pelo fogo até ao mar. Atirámo-nos à água com as chamas a queimar-nos as costas", contou uma delas.
As autoridades acreditam que a tragédia teve origem criminosa, uma vez que foram detetados 15 focos de incêndio à mesma hora em três locais diferentes. O objetivo seria forçar a retirada dos residentes para saquear as casas.
Estradas da morte matam dezenas
A semelhança entre o que aconteceu ontem na Grécia e a tragédia de Pedrógão Grande é evidente, naquela que ficou conhecida como a estrada da morte. Na fuga às chamas, dezenas de pessoas morreram carbonizadas no interior das suas viaturas.
"Nuvem de fumo negro"
"Logo pela manhã começámos a ver uma nuvem de fumo negro, que ficou cada vez maior e mais densa, a aproximar-se da cidade. Atenas ficou completamente cor de laranja", descreveu ao CM o turista português Miguel Perry Vidal. O jovem, de 21 anos, relatou ainda "o calor intenso" que se se fazia sentir na altura, acrescentando: "De madrugada, sim, já estava toda a gente muito mais nervosa e o fumo ficou ainda mais visível." "Nós, portugueses, ainda temos a lembrança do que se passou em Portugal e eu só quero que tudo se resolva", disse.
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