Japão aprova orçamento recorde para defesa face a renovada tensão com a China
Há semanas, o Japão tinha afirmado que poderá intervir se Pequim tomar medidas contra Taiwan.
Tóquio aprovou esta sexta-feira um orçamento recorde de defesa de mais de 9 biliões de ienes (49 mil milhões de euros) para 2026, visando reforçar mísseis, veículos aéreos não tripulados ("drones") e defesa costeira, face à crescente tensão com Pequim.
O plano orçamental, que representa um aumento de 9,4% face a 2025, integra o quarto ano do programa de cinco anos para duplicar a despesa anual em defesa para 2% do Produto Interno Bruto (PIB), meta que Tóquio pretende atingir já em março, dois anos antes do previsto.
A subida ocorre num contexto de crescente tensão com a China. Em novembro, a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, afirmou que o Japão poderá intervir, se Pequim tomar medidas contra Taiwan, ilha autogovernada que a China reclama como parte do seu território.
O novo orçamento prevê mais de 970 mil milhões de ienes (5,2 mil milhões de euros) para ampliar a capacidade de mísseis de longo alcance. Entre os destaques está a aquisição de mísseis antinavio Type-12 com alcance de cerca de 1.000 quilómetros, cuja primeira entrega será feita já em março na prefeitura de Kumamoto, no sudoeste do arquipélago.
Para colmatar o declínio populacional e a escassez de pessoal nas Forças de Autodefesa, o plano aposta também em armamento não tripulado. O Japão vai investir 100 mil milhões de ienes (542 milhões de euros) na implementação de "drones" aéreos, marítimos e subaquáticos em grande escala para vigilância e defesa costeira, no âmbito do sistema "SHIELD", a concluir até março de 2028.
Inicialmente, Tóquio prevê recorrer a importações, com possíveis fornecedores da Turquia ou de Israel, para acelerar o processo.
As autoridades japonesas estão ainda alarmadas com a expansão das operações chinesas no Pacífico. Um novo gabinete será criado no Ministério da Defesa para monitorizar atividades e capacidades militares da China na região.
Em junho, dois porta-aviões chineses operaram em simultâneo perto da ilha japonesa de Iwo Jima, alimentando receios sobre o alcance crescente das Forças Armadas de Pequim, para além do Mar do Leste da China.
O orçamento contempla também mais de 160 mil milhões de ienes (847 milhões de euros) para o desenvolvimento conjunto de um caça de nova geração com o Reino Unido e a Itália, com entrada em operação prevista para 2035. Estão ainda previstos projetos de "drones" com inteligência artificial que acompanharão os novos caças.
No setor naval, a Mitsubishi Heavy Industries foi selecionada pela Austrália para modernizar as fragatas da classe Mogami, substituindo os atuais navios ANZAC.
O plano de defesa a cinco anos deverá elevar a despesa anual para cerca de 10 biliões de ienes (54 mil milhões de euros), colocando o Japão como terceiro maior investidor militar do mundo, após os EUA e a China.
O financiamento será assegurado por aumentos de impostos sobre empresas e tabaco, além de uma subida do imposto sobre o rendimento a partir de 2027. No entanto, a sustentabilidade do investimento a longo prazo permanece incerta.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt