Líder da Papua Nova Guiné ofendido por Biden insinuar que tio foi comido por canibais

Relato do presidente dos EUA de que o avião de Finnegan foi abatido é desmentido pelos registos militares. 

22 de abril de 2024 às 12:17
Joe Biden, presidente dos EUA Foto: Kevin Lamarque/ Reuters
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O primeiro-ministro da Papua-Nova Guiné, James Marape, acusou Joe Biden de menosprezar a nação insular do Pacífico Sul ao insinuar que um tio do presidente dos Estados Unidos foi comido por "canibais" durante a Segunda Guerra Mundial.

Os comentários de Biden ofenderam um aliado estratégico fundamental, numa altura em que a China tenta aumentar a sua influência na região.

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Na semana passada, numa cerimónia oficial junto a um memorial de guerra da Pensilvânia, o Presidente dos Estados Unidos falou sobre o seu tio, o segundo-tenente Ambrose J. Finnegan Jr., aviador do Corpo Aéreo do Exército, que, segundo Biden, foi abatido sobre a Papua Nova Guiné, na ocasião um teatro de combates ferozes.

"Eles nunca encontraram o corpo porque costumava haver, havia muitos canibais de verdade naquela parte da Nova Guiné", disse Biden, referindo-se à principal ilha do país.

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Domingo, num comunicado, Marape afirmou que Biden "pareceu insinuar que o seu tio foi comido por canibais".

"As observações do presidente Biden podem ter sido um lapso de linguagem. No entanto, o meu país não merece ser rotulado como tal", disse Marape, no comunicado, divulgado pela agência norte-americana Associated Press.

"A Segunda Guerra Mundial não foi obra do meu povo; no entanto, eles foram desnecessariamente arrastados para um conflito que não era obra deles", acrescentou Marape.

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O desentendimento ocorre no momento em que o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, iniciou esta segunda-feira uma visita à Papua Nova Guiné, o vizinho mais próximo da Austrália. 

Albanese e Marape comemorarão os laços de amizade e de defesa entre os dois países percorrendo parte de um campo de batalha fundamental conhecido como Kokoda Track no final da semana.

"Estou muito confiante de que a Papua Nova Guiné não tem um parceiro mais forte do que a Austrália e que os nossos laços de defesa e segurança nunca foram tão fortes", disse Albanese aos repórteres antes de partir da Austrália.

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A Embaixada dos Estados Unidos em Port Moresby, apesar de instada pela AP a comentar, ainda não respondeu.

O relato de Biden de que o avião de Finnegan foi abatido é desmentido pelos registos militares. 

Segundo um relatório do Pentágono, Finnegan era um passageiro num avião de transporte 'Douglas A-20 Havoc', que se despenhou no oceano depois de os dois motores terem falhado a 14 de maio de 1944.

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Um membro da tripulação sobreviveu, mas não foram encontrados vestígios do avião ou das outras três pessoas a bordo, incluindo Finnegan.

A declaração de Marape foi divulgada no mesmo dia em que se encontrou com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, em Port Moresby, para analisar o reforço das relações bilaterais.

Marape também apelou aos Estados Unidos para que encontrem os seus mortos de guerra nas selvas da Papua Nova Guiné e para que limpem os destroços da guerra.

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"Os restos mortais de inúmeros militares da Segunda Guerra Mundial estão espalhados por toda a Papua Nova Guiné, incluindo o avião que transportou o tio do Presidente Biden", disse Marape.

"Talvez, tendo em conta os comentários de Biden e a forte reação da Papua Nova Guiné e de outras partes do mundo, seja altura de os Estados Unidos encontrarem o maior número possível de restos mortais da II Guerra Mundial no país, incluindo os de militares que perderam a vida, como Ambrose Finnegan", afirmou.

"Os teatros de guerra na Papua-Nova Guiné e nas Ilhas Salomão são muitos e estão repletos de vestígios da II Guerra Mundial, incluindo restos humanos, destroços de aviões e navios, túneis e bombas. O nosso povo vive diariamente com o medo de ser morto por bombas ainda por detonar datadas da II Guerra Mundial", concluiu Marape.

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