Lula critica o presidente do Chile e chama-o de jovem apressado
Em causa está Gabriel Boric defender posições mais duras contra a Rússia.
Numa atitude pouco diplomática e pouco usual entre chefes de Estado aliados, o presidente do Brasil, Lula da Silva, criticou esta quarta-feira o presidente do Chile, Gabriel Boric, por este defender posições mais duras contra a Rússia, de cujo presidente, Vladimir Putin, o veterano político brasileiro é amigo. Lula da Silva, de 77 anos, avaliou que Boric, de 37, é muito jovem e inexperiente, e, por isso, é apressado.
"Possivelmente, a falta de costume de participar destas reuniões (Boric está no primeiro mandato como chefe de Estado) faça com que um jovem seja mais sequioso, mais apressado, mas esta foi a reunião mais madura em que eu participei entre a América Latina e a União Europeia, chegou-se a um documento razoável, de interesse de todo o mundo. Eu já tive a pressa do Boric. No meu primeiro mandato, eu ia para as reuniões do G-7 e queria que as coisas fossem resolvidas ali, mas temos de compreender que nem toda a gente tem a mesma pressa.", declarou Lula em Bruxelas, na Bélgica, na conferência de imprensa que selou o final da cimeira entre a União Europeia e a Celac, Comunidade de Estados Latino-Americanos e das Caraíbas, que, paralelamente aos pontos em comum, abordou a invasão da Rússia à Ucrânia.
Considerado o símbolo da nova esquerda latino-americana, mais moderada e mais democrática, Gabriel Boric já protagonizou nos últimos tempos outros embates com o veterano brasileiro, que se tem mostrado mais radical do que nos seus dois mandatos presidenciais anteriores, entre 2003 e 2010, defendendo agora abertamente ditaduras como as da Venezuela, Cuba e até a sangrenta Nicarágua, e criticando as sanções que o mundo impôs à Rússia por ter invadido a Ucrânia em Fevereiro do ano passado, desencadeando a guerra que está a assustar o mundo e a mudar a Europa. Boric, que chegou a dizer durante a cimeira na Bélgica que, se não se for mais duro com a Rússia, depois da Ucrânia qualquer outro país pode ser igualmente invadido, defende o aumento das sanções ao governo de Vladimir Putin, enquanto Lula critica as sanções contra Moscovo e já disse que a Ucrânia tem tanta culpa quanto a Rússia pela guerra.
Semanas atrás, Boric, nessa altura apoiado pelos presidentes do Uruguai, Lacalle Pol, e da Colômbia, Gustavo Petro, já tinha antagonizado com Lula durante um encontro dos presidentes da América do Sul na capital brasileira, Brasília, nessa altura devido ao forte apoio expressado pelo brasileiro ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Lula, que chamou Maduro de "amigo de décadas" e de "um irmão", deu tratamento especial ao venezuelano em Brasília, e Boric, Pol e Petro ficaram tão incomodados e irritados que vieram a público dizer que a Venezuela vive, sim, sob uma ditadura sanguinária, e que Maduro é responsável por muitos e graves crimes, deixando Lula isolado e constrangido.
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