Ministério Público moçambicano investiga desaparecimento de ativista político em Cabo Delgado
Ativista Arlindo Chissale, militante do Podemos, desapareceu a 7 de janeiro.
O Procurador-Geral da República (PGR) de Moçambique disse esta quarta-feira que foi aberto um processo para investigar o desaparecimento, em 7 de janeiro, do ativista Arlindo Chissale, militante do Podemos em Cabo Delgado.
"Na sequência de informações vinculadas pelos órgãos de comunicação social, dando conta do desaparecimento de Arlindo Chissale durante uma viagem da cidade de Pemba ao distrito de Nacala-Porto [Nampula]", foi instaurado um processo na Procuradoria Provincial da República em Cabo Delgado, disse Américo Letela, durante o informe anual do Ministério Público (MP) de 2024.
Em causa está o desaparecimento de Chissale que, além da atividade cívica e política no partido que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane nas eleições gerais de 09 de outubro, também cobria, como jornalista, os ataques terroristas em Cabo Delgado para o portal de informação online "Pinnacle News".
Arlindo Chissale tinha residência em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, e em Nacala, província de Nampula, norte de Moçambique.
Segundo Letela, o processo, iniciado no dia 29 de janeiro, encontra-se atualmente em instrução preparatória.
Em 23 de janeiro, o irmão de Arlindo Chissale disse à Lusa acreditar que o ativista e político tenha sido morto por militares e pediu "justiça e a devolução do corpo".
"Sabemos que ele já não está entre nós. Pedimos justiça e que nos devolvam o corpo, porque ele deixa cinco crianças, em idade estudantil, que tenho que cuidar", disse, na altura, Macário Chissale.
Pelo menos 106 membros e simpatizantes do Podemos foram mortos desde o início das manifestações pós-eleitorais e outros 15 ficaram feridos, disse, em 18 de janeiro, fonte do partido que, de extraparlamentar, passou a ser o maior da oposição, após ganhar popularidade na sequência de um "acordo político" com o candidato presidencial Venâncio Mondlane nas eleições de 09 de outubro.
Moçambique viveu a pior contestação que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), liderada pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Quase 400 pessoas perderam a vida em resultado de confrontos entre a polícia e os manifestantes, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente, pelo menos, 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Contudo, em 23 de março, Mondlane e Daniel Chapo, Presidente já empossado, encontraram-se pela primeira vez e foi assumido o compromisso de acabar com a violência pós-eleitoral no país, embora, atualmente, críticas e acusações mútuas continuem nas declarações públicas dos dois políticos.
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