Moradores acusam polícia de torturas e execuções sumárias durante operação no Rio de Janeiro
Denúncias estão a ser investigadas pelo Ministério Público.
Dois dias após a mais letal operação policial no Rio de Janeiro, com 121 vítimas confirmadas e corpos ainda por identificar, uma vaga de denúncias de moradores relata a prática de tortura e execuções sumárias pelas forças de segurança. O massacre, que superou os 111 mortos da invasão policial à Penitenciária do Carandiru, em São Paulo, em 1992, já está a ser investigado pelo Ministério Público e também deverá ser apurado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, CIDH.
Flávia Froes, advogada e fundadora da ONG Anjos da Liberdade, que fez a denúncia à CIDH, relata que vários dos jovens mortos supostamente em confronto, na versão da polícia, foram encontrados amarrados a árvores, estavam desfigurados por facadas e morreram com tiros na nuca. Um morador da favela do Alemão, que teve medo de revelar o nome, contou ter sido avisado que o filho, o músico Jean Alex Santos Fontes, de 17 anos, fora preso, mas horas depois o corpo dele foi encontrado abandonado na mata que separa aquela favela da favela da Penha, o outro local onde a operação contra o Comando Vermelho foi desencadeada.
Num relato perturbador, a manicura Beatriz Nolasco, também moradora da região, conta que o sobrinho, o mototaxista Yago Ravel Rodrigues, de 19 anos, teve a cabeça cortada. Ela pormenoriza que o rapaz não tinha qualquer ferimento, simplesmente cortaram-lhe a cabeça e penduraram-na numa árvore.
Apesar das denúncias que continuam a chegar ao Ministério Público e a entidades de defesa dos direitos humanos, a polícia nega excessos e avança que, se os mortos foram encontrados na mata, é porque eram criminosos. Em conferência de imprensa, o secretário de Polícia afirmou que moradores honestos, que trabalham, não vão para uma mata durante o dia.
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