Morreu conhecido jornalista defensor dos direitos humanos que recebeu ameaças no Ruanda
Mototáxi em que viajava esta terça-feira foi abalroado por uma viatura.
O jornalista ruandês Ntwali John Williams, conhecido por ser um defensor dos direitos humanos e que já tinha recebido ameaças de morte, morreu aos 44 anos, confirmou esta quinta-feira a sua família à agência Efe.
Um familiar de William, que pediu anonimato, adiantou que a Polícia Nacional do Ruanda contactou a família para recolher o corpo do jornalista na morgue do Hospital King Faisal em Kigali.
A polícia assegurou à família que o ativista morreu num acidente na passada terça-feira, depois do mototáxi em que viajava ter sido abalroado por uma viatura.
O motorista sofreu ferimentos, mas o jornalista morreu no local, segundo a força policial.
Esta quinta-feira, o jornal independente The Chronicles, do qual Williams era editor, também noticiou a sua morte.
"É com grande tristeza que o The Chronicles anuncia a morte do nosso diretor, o senhor Ntwali John Williams", destacou o jornal através da rede social Twitter.
"As circunstâncias da sua morte ainda não foram apuradas, mas estava afastado do trabalho desde segunda-feira. Forneceremos mais detalhes assim que os tivermos", acrescentou o jornal.
Williams era conhecido pelas suas reportagens de investigação na área dos direitos humanos, sobre o desaparecimento de membros da oposição ou o despejo forçado de pessoas em favelas.
O jornalista já tinha recebido ameaças de morte no passado, já tinha sido detido e alvo de ataques na Internet.
Segundo o seu perfil na rede social Twitter, Williams definia-se como um "ativista de direitos humanos, consultor e editor", acrescentando: "Acredito numa mudança melhor, acredito em equidade, direitos iguais e paz para todos".
Durante a sua carreira jornalística de vinte anos, o ativista trabalhou para vários meios de comunicação ruandeses e também foi dono do portal Ireme News.net, que foi bloqueado, e de um canal no YouTube, Pax Tv Ireme News, onde publicou a maior parte das suas investigações.
A morte foi anunciada depois da organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) ter acusado na quarta-feira o Ruanda de tentar limitar a liberdade de expressão após a prisão de um político da oposição ruandesa, Théophile Ntirutwa, condenado na segunda-feira a sete anos de prisão por "divulgar informações falsas" e prejudicar "a imagem" do país.
Desde que chegou ao poder em 2000, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, ganhou reconhecimento internacional pelos seus sucessos económicos e pela reconstrução do país após o genocídio de 1994.
No entanto, organizações de direitos humanos denunciaram em várias ocasiões prisões arbitrárias e desaparecimentos de dissidentes pelas mãos do seu governo.
No passado, opositores em Ruanda foram mortos ou desapareceram pelo que a oposição descreveu como razões "políticas".
O relatório "Liberdade no Mundo 2022" da Freedom House constatou que, embora o regime ruandês tenha mantido a estabilidade e o crescimento económico no país, também suprimiu a oposição política através de vigilância generalizada, intimidação, tortura e alegados assassinatos de dissidentes exilados.
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