Mortes por fome em Gaza podem aumentar de forma "exponencial"
Organismo da ONU declara pela primeira vez que há fome no território.
A maior autoridade mundial em crises alimentares declarou esta sexta-feira que existe "fome generalizada" na Cidade de Gaza e que o número de mortes pode aumentar de forma "exponencial" nas próximas semanas se não for declarado um cessar-fogo e permitido o acesso sem entraves das organizações humanitárias.
Segundo a Classificação Integrada de Segurança Alimentar em Fases (IPC), um organismo da ONU, foram ultrapassados na cidade os três limites críticos que determinam a declaração de fome: pelo menos 20% dos agregados familiares enfrentam falta extrema de alimentos, pelo menos 30% das crianças entre os 6 meses e os 5 anos sofrem de desnutrição aguda e pelo menos duas pessoas adultas ou quatro crianças abaixo dos 5 anos por cada 10 mil habitantes morrem de fome por dia.
"Esta fome é inteiramente causada pelo homem e pode ser travada e revertida. O tempo do debate e das hesitações acabou, a fome está presente em Gaza e está a alastrar rapidamente", alerta a IPC, acrescentando que "qualquer atraso, mesmo de alguns dias, irá resultar numa escalada inaceitável da mortalidade relacionada com a fome" em todo território.
A organização indica ainda que as cidades de Deir al-Balah (centro) e Khan Younis (sul) estão muito perto de atingir uma situação de fome generalizada e alerta que a situação no norte de Gaza "poderá ainda ser pior" do que a registada na Cidade de Gaza, mas não há dados suficientes que o permitam confirmar.
Desde o início da IPC, em 2004, esta é a quarta vez que o organismo da ONU declara uma situação de fome generalizada, e a primeira na região do Médio Oriente. Anteriormente, a organização declarou situações de fome na Somália (2011), Sudão do Sul (2017 e 2020) e na região do Darfur, Sudão, no ano passado.
O governo israelita rejeitou veementemente as conclusões da IPC, denunciando que se tratam de "mentiras do Hamas branqueadas por organizações com interesses investidos".
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