Moscovo prepara medidas contra UE se financiar Kiev com fundos russos
"Qualquer ação ilegal que envolva as nossas reservas e bens estatais não ficará sem resposta", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
A Rússia está a preparar "um pacote de contramedidas" para responder à possibilidade de a União Europeia (UE) usar os fundos russos congelados para financiar a Ucrânia, anunciou esta quinta-feira a diplomacia russa.
"A preparação de um pacote de contramedidas, caso se verifique este roubo e confiscação de bens russos, está em curso", afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
"Qualquer ação ilegal que envolva as nossas reservas e bens estatais não ficará sem resposta", afirmou, citada pela agência de notícias russa TASS.
Zakharova assegurou que "haverá uma reação" de Moscovo se a UE optar por usar os ativos russos que foram congelados na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
"A comunidade internacional não ignorará esta situação", disse a porta-voz durante uma conferência de imprensa em Moscovo, segundo a agência de notícias espanhola Europa Press.
A Comissão Europeia apresentou na quarta-feira a base legal para avançar com a proposta de financiar um empréstimo de 140 mil milhões de euros de reparações à Ucrânia com ativos soberanos russos congelados na Bélgica.
O Governo belga questiona abertamente a legalidade do plano e avisa que pode levar o país à bancarrota, pelo que exige garantias dos parceiros da UE quanto à repartição de eventuais consequências da medida.
A Rússia já advertiu a Bélgica de que terá de prestar contas, "de uma forma que não será fácil", se autorizar o uso de ativos russos congelados para apoiar a Ucrânia.
Zakharova acusou a UE de estar a usar todos os meios de que dispõe, incluindo medidas "sem base legal", para agir contra a Rússia.
"Este caso, em que a compreensão das falhas inerentes a uma estratégia falhada que a ala russófoba impôs à totalidade da UE, raia a loucura política", criticou.
Zakharova disse que o "desejo de causar danos à Rússia tapa literalmente qualquer outra consideração".
"Ninguém na UE sequer esconde o facto de que não há base legal para este tipo de ações. É um roubo, não há outra definição possível", acrescentou.
Atualmente, existem cerca de 210 mil milhões de euros em bens congelados russos na UE, principalmente na Bélgica, onde está sediada a Euroclear, uma das maiores instituições de títulos financeiros do mundo.
O parlamento russo pediu em 20 de novembro ao primeiro-ministro Mikhail Mishustin que mandasse "preparar antecipadamente um plano sobre a resposta da Federação Russa" caso a UE adotasse a decisão.
O plano devia incluir "medidas legais" contra a Bélgica e a Euroclear, "em caso de um ataque" aos ativos russos na Europa, segundo a resolução então aprovada.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou na quarta-feira que dar cobertura a um empréstimo para a Ucrânia, apoiado por ativos russos congelados, significaria quebrar a legislação comunitária.
Neste sentido, recordou que a Euroclear detém uma carteira de 40 biliões de euros em ativos, incluindo os russos.
A mobilização de tais fundos para os pôr à disposição de Kiev exigiria que o BCE oferecesse garantias, o que teria implicações negativas para a estabilidade financeira e a confiança na zona euro e no euro, referiu.
Se os líderes da UE derem luz verde à proposta dos ativos na cimeira dentro de duas semanas, a concretização não será imediata, pois exigirá uma série de procedimentos também a nível nacional.
Os serviços comunitários admitiram que poderá estar pronta no segundo trimestre de 2026.
Kiev só teria de devolver o empréstimo de reparações se, chegado o fim da guerra, a Rússia assumisse a responsabilidade e compensasse financeiramente a Ucrânia pelos danos da invasão.
Além das reticências belgas, a Comissão Europeia enfrenta também a oposição da Hungria, cujo primeiro-ministro, Viktor Orbán, tem advertido que a entrega de ativos russos à Ucrânia terá "consequências imprevisíveis" como o colapso do euro.
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