"Nunca aconteceu": jovem argentina luta para retirar pai da cadeia após denunciá-lo por abuso sexual

Jazmín denuncia diversas irregularidades na investigação e pede a reabertura do caso.

04 de dezembro de 2024 às 11:06
Jazmín e a mãe, Lorena Foto: DR
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"As coisas foram longe demais. Arrependo-me e quero tirá-lo da cadeia”. Jazmín Carro tinha 14 anos quando teve uma discussão acesa com o pai. Inflamada com um sentimento de raiva e frustração, a jovem acusou Julio, o progenitor, de a ter abusado sexualmente na infância.

O "falso desabafo" levou a que o caso fosse parar ao tribunal e a que o pai fosse condenado a 15 anos de prisão. Hoje, cinco anos depois, Jazmín confessa que o que disse não passou de uma mentira, apelando à libertação do familiar. O caso aconteceu na Argentina. 

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"Peguei na história de algo que aconteceu a uma amiga muito próxima. Tornei-a minha e disse que me tinha acontecido a mim, quando na realidade não foi assim, nunca aconteceu", disse Jazmín ao jornal El Español.

Discussão em jantar

Foi num jantar de família que Julio repreendeu a filha pelo seu comportamento. “Ela [Jazmín] estava a ser desrespeitosa e o Julio impôs limites, como sempre fez. Mas, desta vez, a Jazmín reagiu de uma forma completamente inesperada”, conta Lorena, a mãe.

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Poucos minutos depois da discussão, Lorena foi ao quarto de Jazmín para falar sobre o que tinha acontecido. Naquele momento, a rapariga contou-lhe que o pai lhe tinha tocado de forma indevida quando era mais nova. 

“Quando ela disse isso fiquei chocada. A minha primeira reação foi acreditar nela porque era minha filha. Achei que ele não tinha motivos para mentir. Disse-me que tinha acontecido durante um fim de semana em que fui a um retiro espiritual. Tinha cerca de seis anos de idade”, referiu.

Depois do choque com as revelações, Lorena dirigiu-se com a filha para a Secretaria para a Luta contra a Violência contra as Mulheres e o Tráfico de Seres Humanos para reportar uma queixa contra o marido. 

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"Senti-me pressionada"

Na queixa a que o El Español teve acesso, a jovem diz que o progenitor lhe tocou na zona genital e a obrigou a fazer o mesmo. 

“A entrevistada refere que os factos ocorreram mais do que uma vez, que ele lhe tocou por baixo da roupa", lê-se na acusação.

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Quando se deu início à investigação policial, Julio foi afastado da casa onde morava com a mulher e a filha. Naquela atura, a jovem foi submetida a várias avaliações psicológicas.

“Nas entrevistas, senti-me pressionada. Tentei dizer que não tinha acontecido nada, mas não me deixaram. Disseram-me que era normal esquecer as coisas por causa do trauma", denuncia Jazmín.

Irregularidades no processo

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A jovem e a mãe apontam para diversas irregularidades no processo. Segundo Lorena, durante as avaliações psicológicas, foram acrescentados pormenores à queixa que a filha nunca tinha mencionado.

Quando o caso foi a julgamento em 2022, a defesa de Julio pediu que Jazmín fosse autorizada a testemunhar, mas o pedido foi negado.

“Eu queria dizer a verdade, mas eles não me deixaram. Disseram-me que não podia mudar o que já tinha dito”, conta Jazmín.

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Para Lorena, houve ainda outras provas que poderiam ajudar a comprovar a inocência do marido que foram ignoradas. Entre elas, a gravação de avaliações psicológicas, que, segundo a família, teriam mostrado como Jazmín foi induzida a confirmar pormenores que não correspondiam à realidade.

"Quero que a verdade venha ao de cima”

Desde que Julio foi condenado a 15 anos de prisão, Jazmín e a mãe têm trabalhado para que a justiça reabra o caso. Em 2023, conseguiram levar a sua situação ao Senado argentino com o apoio de organizações como a Frente de Mulheres contra as Falsas Acusações.

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“Não sei como resolver isto, mas quero que a verdade venha ao de cima”, desabafa Jazmín.

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