O NOVO MURO DA VERGONHA

Os EUA decidiram esta semana diminuir em cerca de 290 milhões de dólares o pacote de garantias de emprétimo concedidas a Israel. É a primeira resposta efectiva à política de construção de colonatos do país judaico e de penalização pela construção de uma barreira de segurança para isolar a Cisjordânia do território israelita.

30 de novembro de 2003 às 00:00
O NOVO MURO DA VERGONHA Foto: Jim Hollander
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O dinheiro que agora é retirado a Israel faz parte de um pacote de nove milhares de milhões de dólares de garantias de empréstimo. Embora avultada, a penalização não vai afectar o apoio financeiro directo dos EUA a Israel. Daí que se trate sobretudo de um gesto simbólico que visa dar conta de um novo empenhamento da administração do presidente George W. Bush na resolução do conflito israelo-palestiniano. Trata-se ainda de um sinal de apoio ao novo primeiro-ministro palestiniano, Ahmed Qorei, que Washington deseja que possa manter-se no cargo para tornar-se numa alternativa real ao desacreditado líder palestiniano, Yasser Arafat.

O já chamado 'novo Muro da Vergonha" é composto por mais de 150 kms de redes electrificadas e muros de betão com até oito metros de altura, um circuito fechado de televisão, torres de vigilância, metralhadoras teleguiadas e percursos para patrulha. Quando terminado, terá cerca de 650 kms de extensão, e deixará milhares de palestinianos confinados em enclaves ou isolados nas suas próprias cidades.

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Por uma infeliz ironia, o início da segunda fase da sua construção, a 9 de Novembro passado, coincidiu com o 14.º aniversário da queda do Muro de Berlim, mais conhecido como 'Muro da Vergonha'.

O primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, defende a construção da barreira alegando que é a única forma de travar os atentados suicidas contra Israel. Mas a comunidade internacional condena o gesto e considera-o um novo obstáculo ao processo de paz no Médio Oriente.

Acresce que uma tal estrutura, tanto pelo seu impacto real como pelo seu impacto simbólico enquanto gesto 'racista', só pode agravar a tensão no Médio Oriente. Bush condenou o muro desde o início da sua construção, em Junho de 2002, mas até hoje faltaram medidas reais. Daí que o castigo financeiro seja insuficiente e denote o eterno "dilema" de Washington: pressionar Israel correndo o risco de alienar um aliado poderoso no Médio Oriente, ou apostar na diplomacia para obter a paz, processo que até hoje nunca resultou.

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ONU CONDENA

A Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução em Outubro exigindo a Israel que pare a construção da barreira de segurança na Cisjordânia e destrua os trechos já erguidos. A resolução considera que o muro viola a lei internacional.

UE DENUNCIA

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A União Europeia (UE) manifestou também a sua oposição à construção do muro e instou ainda Israel a pôr fim à política de construção de colonatos nos territórios ocupados. Para a UE o muro ameaça tornar "fisicamente impossível" o avanço para uma solução de paz.

EUA NA ‘BALANÇA’

Os EUA têm condenado a construção do muro, mas de uma forma pouco convicta. O presidente Bush limitou-se a considerar o muro “um problema" e, no passado mês de Outubro, os EUA bloquearam uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que visava condenar a barreira.

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