Pedro Sánchez anuncia hoje futuro político. Saiba o que está em causa e o que pode acontecer

Esposa do chefe do governo espanhol está a ser investigada por suspeitas de corrupção e tráfico de influências. Sánchez assume-se farto "da difamação da extrema-direita".

29 de abril de 2024 às 08:25
Pedro Sánchez e Begoña Gómez Foto: Yves Herman/Reuters
Partilhar

Espanha está em sobressalto com a polémica em redor da família de Pedro Sánchez. O primeiro-ministro espanhol admitiu a possibilidade de se demitir após ser noticiado que a sua mulher, Begoña Gómez, era alvo de uma investigação por corrupção e tráfico de influências. Esta segunda-feira, pelas 11h locais (10h em Portugal), o chefe do governo de Espanha vai anunciar ao povo a sua decisão. Mas o que está de facto em causa e como este caso pode influenciar a governabilidade em Espanha?

"Devo continuar a liderar este governo ou renunciar a esta mais alta das honras? Valerá a pena manter-me [no cargo], apesar das difamações da direita e da extrema-direita?" escreveu Sánchez numa carta partilhada no X (anterior Twitter), após o anúncio da investigação. 

Pub

De que está a ser acusada Begoña Gómez?

Na quarta-feira, a comunicação social espanhola noticiou que tinha sido aberta uma investigação preliminar à mulher do chefe do governo espanhol por suspeitas de corrupção e tráfico de influências. A investigação foi lançada na sequência de uma queixa criminal apresentada pela 'Manos Limpias'.

Pub

Segundo a acusação, enquanto trabalhou no IE Business School e na Universidade Complutense de Madrid, Begoña Gómez encontrou-se várias vezes com os donos da Globalia, um conglomerado que detém a Air Europa. Mais tarde, devido à pandemia, esta empresa recebeu apoio financeiro. A 'Manos Limpias' considera que a situação foi orquestrada pela mulher de Sánchez. 

De acordo com o Politico, a queixa também alega que Begoña Gómez interveio para que o governo espanhol favorecesse um empresário que participou num programa que ela supervisionou na Universidade Complutense. Quando o empresário se candidatou a um contrato público, apresentou 32 cartas de recomendação, uma das quais estava assinada pela mulher do primeiro-ministro.

A queixa apresentada cumpre os requisitos legais?

Pub

A queixa da 'Manos Limpias' consiste numa carta acompanhada de vários recortes de imprensa, mas sem provas concretas que sustentem as suas acusações. Ao que o Politico apurou junto de juristas espanhóis, as acusações descritas na queixa não cumprem os requisitos legais para acusar alguém de um crime. Na quinta-feira de manhã, os procuradores espanhóis pediram o arquivamento do processo.

O que é a 'Manos Limpias'?

O grupo 'Manos Limipias' está registado como sindicato, mas tem como principal atividade processar grupos frequentemente ligados a causas progressistas. Foi fundado em 1995 por Miguel Bernard, um advogado que se candidatou ao cargo pelo partido ultranacionalista Frente Nacional e que mais tarde foi nomeado Cavaleiro de Honra da Fundação Francisco Franco.

Pub

Em quase 30 anos de existência, a entidade lançou inúmeras queixas contra a legislação espanhola. 

Em 2021, o Tribunal Nacional de Espanha considerou a 'Manos Limpias' culpada por ameaçar que lançar ações judiciais e fazer campanhas de difamação para extorquir bancos e empresas. A condenação acabou por ser anulada pelo Supremo Tribunal Espanhol, apesar de os magistrados considerarem as operações do grupo "altamente repreensíveis".

Sánchez ameaça demitir-se: quais são as consequências e os cenários possíveis?

Pub

Pedro Sánchez disse estar farto dos ataques da extrema-direita à família desde que foi eleito líder do Partido Socialista espanhol em 2014. Segundo o primeiro-ministro de Espanha, à medida que o cenário político no país se foi polarizando, os ataques à sua esposa tornaram-se mais intensos. 

Durante vários anos, especialistas de direita espalharam rumores sobre Gómez, incluindo um que alegava que ela era na realidade um homem cujo verdadeiro nome é Begoño, e que a sua família era proprietária de uma rede de clubes de sexo e estaria envolvida em operações internacionais de contrabando de droga. Apesar de sempre terem conseguindo provar a falsidade das alegações, Sánchez admite que se sente esgotado com as tentativas de difamação de que tem sido alvo. 

"Apesar da caricatura que a direita faz da minha pessoa, não estou preso a este cargo. O meu compromisso é com o meu sentido do dever e com o serviço público", explicou Sánchez no X.

Pub

O governante estabeleceu um prazo até segunda-feira para se decidir se vai continuar no cargo "que lhe valeu tanta inimizade política". Nesse dia, vai dirigir-se à nação espanhola e anunciar a decisão. 

Se Sánchez optar por se demitir do cargo, o governo espanhol entrará em modo de gestão até que o parlamento nacional dê o seu apoio a um novo candidato que pretenda formar um gabinete. Essa situação poderá criar um longo impasse, uma vez que Sánchez não tem um sucessor em vista. E também não é provável que o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular, de centro-direita, obtenha apoio suficiente dos deputados para formar um governo.

O chefe do governo espanhol também pode deixar ao parlamento a decisão de se manter no cargo, convocando um voto de confiança. Para se manter no poder, precisaria do apoio de uma maioria simples dos 350 deputados.

Pub

Outro dos cenários possíveis é o de Sánchez deixar a decisão de se manter no poder ao povo espanhol, dissolvendo o parlamento e convocando eleições antecipadas. As últimas sondagens colocam o Partido Popular oito pontos percentuais à frente dos socialistas.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar