Revista acusa Temer de mandar "secretas" espiarem relator da Lava Jato
Temer absolvido da acusação de uso de fundos ilícitos na campanha de 2014.
Horas depois de, com o voto decisivo do amigo Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ter sido absolvido da acusação de uso de fundos ilícitos na campanha de 2014, o presidente brasileiro, Michel Temer, já está a braços com uma nova denúncia, muito mais grave ainda do que a anterior. Segundo reportagem da edição deste fim de semana da revista "Veja", o presidente brasileiro mandou a Agência Brasileira de Informações, ABIN, as "secretas" do Brasil, espiar e investigar o juíz Luiz Edson Fachim, relator dos processos da operação anti-corrupção Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, (STF).
Fachim, que surpreendeu ao mostrar-se ágil e rigoroso nas decisões que tem tomado contra os envolvidos no maior escândalo de corrupção da história do Brasil, foi quem autorizou há tres semanas a abertura de uma investigação contra o próprio Michel Temer, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O PGR, Rodrigo Janot, acusa Temer de crimes de corrupção, obstrucção à justiça e participação em organização criminosa, por ter, segundo o chefe do Ministério Público, avalizado a compra do silêncio de testemunhas que poderiam comprometê-lo, bem como a de juízes e de um procurador que poderiam tornar-se incómodos.
De acordo com "Veja", assustado com essa investigação e a vaga de denúncias do recebimento de milhões em "luvas" pagas por vários empresários corruptos, Michel Temer accionou os serviços secretos. A idéia ´[é devassar a vida actual e pregressa do juíz Fachim e tentar encontrar algo que possa constrangê-lo e forçá-lo a deixar o comando dos processos da Lava Jato, que assumiu apenas em Fevereiro, após a morte, no mês anterior num acidente aéreo ainda sob suspeita, do antigo relator desses processos, juíz Teori Zavascki.
Em curto comunicado, já que Temer evita a imprensa desde que se iniciou a vaga de denúncias contra ele, a presidência da República negou a informação avançada pela revista e declarou que o chefe de Estado jamais usou ou usaria a máquina pública contra qualquer cidadão, juíz ou não. A presidente do Supremo Tribunal, juíza Carmen Lúcia, afirmou, também em comunicado divulgado este fim de semana, que a acusação da revista, se confirmada, constitui um "gravíssimo crime", e revela uma prática só vista "em regimes ditatoriais", que precisa ser imediata e totalmente investigada e esclarecida e, se confirmada, exemplarmente punida.
A possível espionagem decretada pelo presidente a um juíz do Supremo Tribunal foi alvo também de uma verdadeira enxurrada de críticas e notas de repúdio, que vão da Ordem dos Advogados do Brasil, Associação dos Juízes Federais, Procuradoria-Geral da República e várias outras entidades e personalidades do mundo jurídico, político não aliado a Temer e, de forma geral, na opinião pública. Nas redes sociais, uma avalanche de críticas a Michel Temer reforçou ainda mais a impopularidade do presidente, que, segundo o Instituto Datafolha e mesmo antes da vaga de denúncias, tinha aprovação de apenas 9% dos brasileiros.
A denúncia da revista "Veja", ainda não confirmada oficialmente e que diz ter-se baseado em informações de assessores presidenciais que falaram sob anonimato, chama a atenção para um facto que já tinha causado alguma estranheza nos últimos tempos, a presença constante ao lado de Michel Temer do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, Sérgio Etchegoyen, que tutela as "secretas". O sisudo general está quase em permanência no gabinete de Temer, acompanha-o para todo o lado até em cerimónias públicas, o que não era comum em outros governos, e passou a ser um dos principais, senão o principal, conselheiro do presidente desde que este passou a ser alvo de acusações e investigado.
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