Vídeo de youtuber dos EUA mostra polícia de São Paulo a dizer que mortes de suspeitos são comemoradas com charutos e cerveja

Reportagem de Gen Kimura já foi vista por mais de 1,6 milhões de internautas.

polícia militar brasileira Foto: Getty Images
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A Polícia Militar (PM) de São Paulo está envolvida numa enorme polémica depois de agentes serem mostrados numa reportagem de um youtuber norte-americano a dizer que quando matam alguém vão comemorar com festa, charutos e muita cerveja. Os vídeos feitos durante a sua estadia em São Paulo pelo Youtuber Gen Kimura, de 27 anos, de Portland, nos EUA, foram visualizados até esta quarta-feira, 26 de Junho, por mais de 1,6 milhões de internautas e estão a provocar uma enorme polémica não só entre as autoridades responsáveis pela segurança como na opinião pública.

Num dos momentos das muitas gravações feitas pelo youtuber norte-americano, que se mostra a ele próprio dentro de um carro oficial da PM usando colete balístico da corporação, um dos polícias diz-lhe, falando sempre em inglês, que para a polícia matar um suposto criminoso é sempre um motivo de festa. Segundo esse agente, quando a polícia mata um suposto criminoso, mesmo que seja meramente alguém que se tornou suspeito durante um patrulhamento de rotina ou em alguma operação específica, os polícias envolvidos nessa morte comemoram muito.

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O agente complementou que, após a ação com a morte de um suspeito, o pelotão envolvido na operação reúne-se, ou no batalhão a que pertence ou em outro local onde possa haver privacidade, e comemora. Essa comemoração, detalhou o polícia, que já foi identificado e afastado do trabalho nas ruas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o órgão de tutela das forças de segurança no estado paulista, é regada a muito álcool, principalmente cerveja, e coroada com o uso de charutos como símbolo de poder e de sucesso.

Além dessa declaração, que viola frontalmente os protocolos que devem reger a atuação de uma força de segurança pública, outras imagens estão a provocar celeuma na imprensa e entre entidades de direitos humanos e muito constrangimento na Polícia Militar. Numa delas o youtuber recebe e manuseia uma arma da corporação, o que é impensável, pois trata-se de um civil e, ainda mais, estrangeiro, a quem não poderia ter sido dada uma arma por poder colocar em risco a ele mesmo e até a própria guarnição que o cerca.

Em outro momento, Gen Kimura mostra-se dentro de uma residência humilde de uma família pobre residente numa favela na zona norte da cidade de São Paulo, inclusive cheia de crianças assustadas com a presença e a truculência de tantos polícias com armas de guerra. Nessa residência, o youtuber revela, depois de ouvir o relato dos polícias, que eles já sabiam que naquela casa humilde não iam encontrar nada, nem criminosos nem drogas, mas que iam revistar minuciosamente tanto o imóvel quanto a família que vive nele como forma de pressão e intimidação, para que esses e outros moradores da favela não ajudassem bandidos.

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As reportagens de Gen Kimura têm ao todo cerca de 40 minutos e foram feitas em abril, mas só chegaram ao conhecimento das autoridades paulistas e do grande público agora, após a forte repercussão na internet. A Polícia Militar de São Paulo, comandada pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que anos atrás chegou a ser expulso da própria corporação por excesso de violência, e pelo governador paulista, o fiel aliado e ex-ministro de Jair Bolsonaro Tarcísio de Freitas, tem sido repetidamente acusada de excesso de brutalidade nas suas acções e aumentou este ano em 136% o número de pessoas mortas durante operações, sendo acusada de ter executado pessoas pelas costas ou já dominadas, inclusive inocentes. 

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