Nos últimos cinco anos os agentes do 41.º Batalhão mataram pelo menos 450 pessoas.
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A vereadora Marielle Franco, abatida numa rua do Rio de Janeiro na noite de quarta-feira com quatro tiros na cabeça dentro do carro oficial em que voltava de um evento, tinha denunciado apenas quatro dias antes crimes praticados por agentes do 41. Batalhão da Polícia Militar. O 41.º Batalhão, localizado no bairro de Acari, região distante e muito pobre da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, é a unidade policial que mais pessoas mata em todo o estado do Rio.
"Precisamos gritar para que todos saibam o que está acontecendo neste momento em Acari. O 41.º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Esta semana, dois jovens foram mortos e jogados num valão. Hoje, polícias do 41.º Batalhão andaram pelas ruas de Acari ameaçando os moradores. Acontece desde sempre, mas ficou pior com a intervenção", escreveu a vereadora nas suas redes sociais no sábado, dia 10 passado, apenas quatro dias antes de ser brutalmente executada.A intervenção a que ela se refere é a intervenção militar decretada em final de Fevereiro pelo presidente Michel Temer, que levou para o Rio de Janeiro generais, tanques e milhares de soldados para garantirem a segurança pública, mas cujos resultados até agora não se fizeram sentir.
O 41.º Batalhão da Polícia Militar é conhecido como "Batalhão da Morte", tantas as pessoas que os seus agentes mataram nos últimos anos em supostos confrontos.Segundo dados do ISP, Instituto de Segurança Pública, um órgão do governo do Rio de Janeiro, nos últimos cinco anos agentes do 41º. Batalhão mataram 450 pessoas, todas acusadas pela polícia nos seus relatórios de serem criminosos perigosos, um número nem de perto atingido no mesmo período por nenhuma outra unidade da polícia em todo o estado fluminense.
Tendo como um dos seus alvos preferidos a polícia e as milícias, grupos criminosos formados por agentes e ex-agentes, três dias depois dessa denúncia Marielle fez outra contra a atuação da Polícia Militar. Terça-feira, véspera da própria morte, a vereadora comentou a morte, atribuída a polícias, de um jovem evangélico que tinha ido à igreja e saía de mota da favela do Jacarezinho, dizendo "mais um crime que pode entrar na conta da PM (Polícia Militar). Quantos mais terão de morrer para que essa guerra acabe?"
Nascida na favela da Maré e formada em sociologia, Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016, eleita pelo PSOL, Partido Socialismo e Liberdade. O seu curto mandato foi pautado pela defesa dos negros, principalmente das mulheres e dos jovens, dos moradores de favela e pelas denúncias contra abusos da polícia.Execução profissional
Cerca de quatro quilómetros depois, na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, zona norte, um outro automóvel colocou-se ao lado do dela e desse carro começaram a disparar sem cessar contra o da vereadora. Atingida com quatro tiros na cabeça, Marielle morreu ali mesmo, tal como o seu motorista, Anderson Pedro Gomes, enquanto uma assessora sofreu apenas ferimentos ligeiros.
Para a polícia, quem atirou é um profissional, alguém que não erra tiro e que, ao que tudo indica, já estava à espera da vereadora quando esta saiu do evento na Lapa, pois sabia precisamente o lugar que ela ocupava no carro, apesar de não ser o usual. Marielle detestava sentar-se no banco de trás do veículo, mas nessa fatídica noite, foi aí que se sentou, não se sabe ainda por que razão, e, apesar de os vidros do veículo serem escuros, não dando para ver quem estava lá dentro, o atirador acertou preciso e fatalmente a cabeça dela.
Ao longo de toda a quinta-feira, sucederam-se homenagens de políticos, artistas e anónimos à vereadora por todo o Brasil, principalmente no Rio de Janeiro. Marielle foi sepultada no final do dia no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, bairro na zona portuária do Rio, enquanto Anderson foi sepultado no Cemitério de Inhaúma.
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