Acreditam que o Peronismo ainda não apresenta uma opção superadora e estão descontentes com a política no seu conjunto.
Analistas ouvidos pela Lusa consideraram que a vitória legislativa contundente de Javier Milei não corresponde a aum apoio efetivo ao seu governo da maioria dos argentinos, beneficiando-se da falta de um líder opositor que capitalize o descontentamento.
"Milei terá de mudar se quiser ser reeleito. Caso contrário, em 2027, só terá o apoio do seu núcleo de eleitores fiéis, ao redor de 27%. Milei ganhou as legislativas, mas ninguém ganha as presidenciais com 27%. Se repetir os mesmos erros de até agora, possivelmente o fracasso será o resultado na próxima eleição", aponta à Lusa o analista político e especialista em opinião pública, Cristian Buttié, responsável por acertar com precisão o resultado das eleições legislativas de domingo (26).
A conta é simples: os candidatos do partido de Milei, La Libertad Avanza, obtiveram 40,7% dos votos válidos nacionais. Isso significa que quase 60% dos eleitores preferiram outras opções políticas. Além disso, outros 32% dos eleitores não foram votar, rejeitando as ofertas eleitorais. O voto na Argentina é obrigatório, mas a multa pela ausência é irrisória.
"Cada eleição é um traje à medida, mas Milei corre um grande risco se mantiver a filosofia de governo até agora exibida e não entender que as pessoas lhe prorrogaram a parcela de confiança", adverte Buttié.
Os 32% de eleitores que preferiram ficar em casa a votar indicam que rejeitam um regresso ao passado, mas que também não se identificam com o presente.
"Consideram que o Peronismo ainda não apresenta uma opção superadora e estão descontentes com a política no seu conjunto", interpreta Buttié.
Ao longo dos seus dois primeiros anos de mandato, Javier Milei desprezou a classe política, impondo a sua regra de jogo àqueles que queriam ou que podiam ser os seus aliados. Neste ano, o seu plano económico precisou de dois resgates para não naufragar. Primeiro do Fundo Monetário Internacional em abril e do Tesouro norte-americano, em setembro.
"Exercer a governabilidade é administrar as relações de poder, mas Milei não entendeu essa dinâmica, desdenhando governadores e aliados. Se Milei repetir a mesma receita, achando que os 40% de votos reafirmam o seu modelo do governo, cometerá um erro", observa Buttié.
O próprio Governo dos Estados Unidos, ao anunciar um socorro financeiro a Milei, pediu ao aliado argentino que faça alianças com governadores e legisladores para formar maiorias no Parlamento.
O analista político Patricio Giusto, diretor da consultora Diagnóstico Político, indica à Lusa que os 32% que não foram votar não se sentem atraídos por nenhum candidato.
"Nem por Milei nem pela principal alternativa opositora, o Peronismo e as suas variadas expressões. Milei terá de construir governabilidade e gerar incentivos para ampliar a sua margem de eleitores. O governo precisa de uma melhor gestão, de mais empatia com as pessoas. Milei tem a chance de relançar o seu governo. Os líderes até mudam de ideias, de acordo com as circunstâncias, mas dificilmente mudam de personalidade. Não acredito que Milei mude. Esse é um problema", considera Giusto.
Com vitória em 16 das 24 províncias, nem mesmo o governo esperava um resultado tão positivo. Por isso, Milei decidiu adiar o anúncio de uma reforma ministerial. Sente que ganhou musculatura política para negociar em melhor posição com legisladores de outros partidos.
Juan Ignacio Di Meglio, diretor de assuntos públicos da consultora LLYC, teme que a vitória lhe suba à cabeça.
"Enquanto a oposição não se organizar, Milei tem chances de avançar, mesmo quando 60% dos eleitores não votaram nele. O desafio de Milei é si próprio. Ter ganho as eleições de forma tão contundente não o ajuda a ser um governo de consenso. Com um resultado mais limitado, talvez a postura do governo fosse mais aberta, incorporando terceiros no gabinete de ministros e ampliando o governo", pondera.
Nas últimas cinco eleições intermediárias anteriores, quem ganhou o pleito legislativo, dois anos depois, não conseguiu ganhar as presidenciais.
"Eu não menosprezaria os 60% que não votaram em Milei, porque se ele não fizer um governo extraordinário, o mais provável é que dentro de dois anos, surjam lideranças que organizem o campo opositor anti-Milei. É um campo grande que envolve não apenas esses 60% que não votaram nele como os 32% que não foram votar porque se sentem decepcionados", avisa o analista político e diretor da consultora Opina Argentina, Facundo Nejamkis.
"Vencer a eleição intermediária não garante a reeleição dentro de dois anos. A bola está no campo de Milei. Agora, pode construir uma maioria parlamentária para obter as reformas que, supostamente, vão trazer prosperidade à Argentina. Se isso não acontecer, a sociedade deixará de pensar que a responsabilidade é do governo anterior. Todos os olhos estão agora sobre a gestão Milei", prevê Nejamkis.
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