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Aumento de tarifas traz "riscos adicionais" para estabilidade financeira na UE

Relatório analisa as implicações da nova política aduaneira da Administração de Donald Trump.

15 de julho de 2025 às 13:53

A decisão dos Estados Unidos da América de agravar as taxas aduaneiras aos seus parceiros comerciais coloca riscos acrescidos para a estabilidade financeira na União Europeia (UE), avisou, esta terça-feira, o Comité Europeu do Risco Sistémico (CERS).

No relatório anual de 2024, referente à atividade dos bancos europeus entre 01 de abril de 2024 e 31 de março deste ano, o organismo responsável pela supervisão macroprudencial do sistema financeiro na UE analisa as implicações da nova política aduaneira da Administração de Donald Trump já posteriormente a esse período, em abril e maio.

Para o organismo europeu, a imposição de "direitos aduaneiros muito elevados coloca riscos adicionais para a estabilidade financeira na UE".

Se as tarifas forem duradouras, esses riscos "poderão materializar-se", havendo implicações para o crescimento económico, a inflação, os resultados das empresas e os custos de financiamento.

"Um crescimento mais baixo e uma maior incerteza quanto à inflação podem reduzir a procura de bens, conduzindo potencialmente a lucros mais baixos e a taxas de insolvência mais elevadas para as empresas. Além disso, é provável que o desemprego aumente, conduzindo a uma maior pressão sobre as famílias", nota o comité, que faz parte do Sistema Europeu de Supervisão Financeira (SESF).

Se a política tarifária norte-americana se mantiver e houver um "período prolongado de restrições ao comércio e de elevada incerteza", essa combinação "também poderá desencadear uma correção desordenada dos preços dos ativos, potencialmente amplificada pelo setor financeiro não bancário" pelas empresas, adverte o organismo europeu.

Nesse contexto, uma eventual "combinação de baixo crescimento e de queda dos preços dos ativos pode ter implicações adversas para o setor bancário, incluindo custos de financiamento mais elevados, uma redução da rendibilidade e uma deterioração da qualidade dos ativos", sublinha o CERS.

Embora sendo uma análise prospetiva, a análise do organismo europeu só reflete a sucessão de medidas tarifárias decididas pelos Estados Unidos até 31 de maio, não incluindo a recente decisão, de 12 julho, de impor direitos aduaneiros de 30% à entrada de todos os produtos da UE e do México a partir de 01 de agosto.

Relativamente às primeiras medidas implementadas em 02 de abril, de impor uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações e tarifas mais altas a 57 dos parceiros comerciais, o comité europeu nota que as restrições já levaram a uma redução das projeções de crescimento económico para "a maioria dos principais mercados", incluindo dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, conduziram a "expetativas de inflação mais elevadas nos Estados Unidos, uma vez que se esperava que o aumento dos custos das importações fosse parcialmente repercutido nos consumidores".

Como a "magnitude" dos direitos aduaneiros foi superior ao esperado, "os preços dos ativos de maior risco, como as ações e as obrigações de empresas de elevado rendimento, caíram acentuadamente num contexto de extrema volatilidade, uma vez que os investidores transferiram os seus fundos para ativos mais seguros", aponta ainda o comité, referindo-se ao que se passou no início de abril.

Entretanto, na segunda metade de abril e já em maio, "os riscos diminuíram ligeiramente à medida que a Administração dos Estados Unidos reduziu algumas das tarifas" e, mesmo com uma "baixa liquidez" em determinadas classes de ativos, "os mercados financeiros mundiais mantiveram-se, de um modo geral, resilientes, sem qualquer impacto discernível na descoberta de preços", escreve ainda o comité.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, que preside ao conselho geral do organismo, sublinha, no preâmbulo do relatório, que o sistema financeiro europeu "deu provas de resistência", mas adverte que "não é altura para complacências", uma vez que "as mudanças radicais e rápidas no contexto geopolítico continuam a ser um desafio para todos nós".

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