Bacar Aine, deslocado de guerra em Cabo Delgado, perdeu uma filha e agora não tem como alimentar a neta, bebé de sete meses.
Bacar Aine, 67 anos, deslocado de guerra em Cabo Delgado, norte de Moçambique, perdeu uma filha e agora não tem como alimentar a neta, bebé de sete meses, numa crise humanitária em que a ajuda continua subfinanciada.
Outros dos netos de Bacar seguem o exemplo dos adultos e, quando falta algo melhor, "comem folhas", moídas e juntas num caldo feito na fogueira no campo de acolhimento 3 de Fevereiro de Murrebué, distrito de Mecufi, litoral da província de Cabo Delgado.
Ali estão dezenas de famílias que deixaram as suas terras para procurar zonas seguras, livres de grupos insurgentes, mas onde raramente a ajuda humanitária mata a fome, descreve.
A bebé de sete meses precisa de mamar e o avô tem se socorrido de outras mães do centro de acolhimento, que a pegam ao colo e lhe dão o peito.
"Passo nas famílias onde alguém lhe pode dar de mamar", descreve, angustiado pela falta de perspetivas.
"O que é que eu tenho de fazer com as crianças? Ou devem morrer todas como aconteceu com a mãe? Porque para apanhar comida é muito difícil", desabafa, chorando, sem saber por onde começar.
A Lusa tentou obter esclarecimentos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Cabo Delgado sobre este tipo de situação, mas não obteve resposta.
Por outro lado, o Programa Alimentar Mundial (PAM) tem falta de fundos para matar a fome a cerca de um milhão de pessoas que precisam de alimentos só em Cabo Delgado, de acordo com os últimos dados daquela agência das Nações Unidas.
O défice ronda 5% a 20% das necessidades, com perspetiva de se agravar depois de março, período após o qual o PAM só tem hoje garantido menos de um quinto do apoio financeiro.
"Devido a recursos limitados, o PAM fornece cabazes bimensais equivalentes a 39% das necessidades energéticas diárias desde julho de 2021", justificou a agência das Nações Unidas.
As autoridades locais dizem estar a fazer o que podem, mas dependem dos parceiros internacionais.
"Estou a pedir socorro, para salvar estas crianças", resume Bacar.
O martírio do avô começou em 2020, ano em que ele e a família tiveram de fugir juntos da casa onde viviam em Quiterajo, distrito de Macomia, por causa dos ataques armados de grupos insurgentes.
Ele, a esposa, cinco filhos e netos passaram meses em fuga pelo mato e outras aldeias até chegarem à capital provincial, Pemba, mas as dificuldades no acesso a comida obrigaram-nos a continuar em marcha.
Fixaram-se no centro de reassentamento 3 de Fevereiro, em Murrebué, 35 quilómetros a sul de Pemba, mas a fuga já tinha fragilizado a saúde de todos.
A filha mais velha de Bacar ficou doente e morreu em setembro de 2021.
Deixou cinco filhos menores, incluindo a bebé de sete meses.
Estima-se que cerca de metade dos 800 mil deslocados do norte de Moçambique sejam crianças e jovens, refletindo a estrutura etária do país em que cada mãe tem, em média, cinco filhos.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, mas confrontos localizados persistem.
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