Terrence Chapman, professor do Centro de Estudos Europeus da Universidade do Texas, defendeu que Biden vai pressionar Bruxelas a aumentar a pressão sobre Pequim.
Na cimeira em Bruxelas na segunda-feira, o Presidente dos EUA, Joe Biden, deverá tentar convencer os aliados da União Europeia (UE) a endurecer a posição perante a China, mostrando convergência nas relações com Pequim, antecipam analistas.
"A grande prioridade de Biden no encontro com os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu é a concertação de posições entre os dois blocos em torno dos grandes desafios globais - alterações climáticas, comércio e tecnologia - não necessariamente por esta ordem", explicou à Lusa Ana Isabel Xavier, professora de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa.
Para esta investigadora, Biden quer que os dois blocos "reafirmem o seu compromisso comum na liderança das democracias liberais, em torno das regras de uma economia de mercado justa".
Por isso, a Casa Branca olha com desconfiança para as manifestações de simpatia da UE com Pequim, cujas ambições de expansão económica rivalizam com a estratégia de domínio norte-americano.
"As relações entre os EUA e a China não mudaram muito com a alteração da administração na Casa Branca. Mas a Europa tem tido uma relação diferente com a China. Nesta viagem, Biden irá tentar convencer os aliados europeus a endurecer a posição perante Pequim", disse à Lusa Nuno Gouveia, especialista em política norte-americana.
Na véspera de Biden tomar posse como Presidente, em janeiro, a UE anunciou um acordo de investimento com a China que causou evidente desconforto na futura equipa da Casa Branca e, do outro lado do Atlântico, não demoraram as pressões para que Bruxelas fosse menos flexível perante as intenções de Pequim.
Por isso, Biden tem vindo a propor que as democracias ocidentais se unam num grande projeto de afirmação global, tentando contrariar a expansão chinesa.
Num recente artigo de opinião publicado no jornal The Washington Post, referindo-se às reuniões com os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Biden deixou uma mensagem clara.
"Vamos concentrar-nos em garantir que as democracias de mercado, e não a China ou qualquer outro, escrevam as regras do século XXI sobre comércio e tecnologia", escreveu Biden nesse artigo.
Contudo, este não é um ponto pacifico entre a Casa Branca e Bruxelas.
"Esta abordagem de política externa de Biden - de convocar e congregar uma aliança de democracias de contenção contra a China - não é consensual nos 27. Embora neste semestre a relação UE-China tenha sido marcada por sanções contra pessoas e entidades chinesas por violações dos direitos humanos na província de Xinjiang e pelo impasse na ratificação do acordo de dezembro passado, que permitiria aumentar as oportunidades de negócio na e com a China", defende Ana Isabel Xavier.
Nuno Gouveia lembra que estes sinais poderão não ser suficientes para Washington, até porque há vários outros exemplos de alguma passividade por parte de Bruxelas, relativamente à China.
"Os europeus têm evitado criticar duramente a China em relação à destruição da democracia em Hong Kong ou relativo ao tratamento da minoria muçulmana dos uighures. Além disso, os EUA têm anunciado sanções contra a China devido aos direitos humanos e criticado o país devido às nuvens que existem sobre o início da pandemia do COVID-19, posição bem diferente da União Europeia", diz este especialista em política norte-americana.
"Se os países europeus não acompanharem com mais vigor estas posições americanas, poderá aumentar a desconfiança americana em relação à Europa", conclui Nuno Gouveia, numa posição em que é acompanhado por Terrence Chapman, professor do Centro de Estudos Europeus da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA.
Em declarações à Lusa, Chapman defendeu que Biden vai pressionar Bruxelas a aumentar a pressão sobre Pequim, mas sem nunca "esticar a corda" nas relações entre os dois lados do Atlântico.
"Usando a sua longa experiência diplomática, Biden deverá conseguir que sejam os europeus a revelar a sua determinação em enfrentar Pequim, deixando-lhe o papel final de apenas mostrar satisfação perante a demonstração de convergência de posições", explicou este investigador da Universidade do Texas.
"Sendo este périplo pelos aliados e democracias ocidentais a primeira visita oficial ao exterior, a tónica será de absoluta convergência e concertação. A América que está de volta é claramente a do retorno ao multilateralismo e a da renovação de parcerias com os aliados", concorda Ana Isabel Xavier, para quem o que une os dois blocos é muito mais do que aquilo que os separa.
"UE e EUA têm uma agenda externa e interna que coincide e que vai ao encontro de um grande desígnio: como é que as democracias podem potenciar políticas de bem-estar para as suas sociedades, contendo o extremismo e a radicalização e apostando nas agendas verde e digital como motores da recuperação pós-covid", conclui a especialista em Assuntos Europeus.
Além disso, acrescentou Nuno Gouveia, há em Bruxelas a perceção de que este é um momento que não pode ser desperdiçado.
"Há um sentimento na Europa de que é preciso aproveitar a administração Biden nestes próximos quatro anos. Até porque nada garante que em 2024 não exista uma nova administração americana com uma sensibilidade bem diferente em relação à Europa", defendeu Gouveia.
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