Debate na Câmara dos Comuns sobre a saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit') é retomado esta quarta-feira.
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Especialistas ouvidos pela Lusa alertam para o impacto da incerteza no crescimento económico e das restrições à circulação de pessoas, na sequência do 'Brexit', e consideram que são os britânicos que mais vão sentir os efeitos negativos.
O debate na Câmara dos Comuns sobre a saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit') é retomado hoje e o acordo será votado pelo Parlamento britânico em 15 de janeiro.
Para Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, "a saída do Reino Unido deverá ter impactos negativos sobre o crescimento económico quer do Reino Unido, quer da UE, onde se inclui Portugal".
O economista recorda que, "pelo menos desde David Ricardo [1772-1823] que sabemos que o comércio livre é amigo do crescimento", e acrescenta que fica aberto um precedente, "o que deverá aumentar também a incerteza relativamente a futuras decisões similares de outros países. E também sabemos que a incerteza não é amiga do crescimento económico".
A desvalorização adicional da libra poderá ser outro efeito do 'Brexit', "o que também deverá ter consequências, quer para Portugal, quer para a UE, sendo que, para Portugal, deverá ser sobretudo ao nível do turismo que serão sentidos os maiores impactos", uma vez que o mercado britânico é responsável por cerca de 23% do total de dormidas de não residentes.
O economista-chefe do Montepio acrescenta que estes efeitos já se têm vindo a sentir, uma vez que entre janeiro e outubro de 2018 as dormidas dos britânicos em Portugal recuaram 8,7%, face ao mesmo período do ano anterior.
No mesmo sentido, João Queiroz, diretor da Banca 'online' do Banco Carregosa, afirma que "Portugal será mais afetado na vertente de circulação de pessoas, atendendo a que é um relevante destino da emigração para determinadas profissões (setor médico, financeiro, académico, por exemplo) e a origem de uma importante fonte de turismo".
Em relação à UE no seu conjunto, o 'Brexit' terá como consequência a perda de "um dos maiores contribuidores de fundos (apesar de também ser relevante recetor de fluxos do Orçamento da União), e de destino de exportações da política agrícola comum", além de afetar o esforço de defesa como os fluxos de informação e de dados, e poder "obrigar a redesenhar a estrutura militar que não se encontra no âmbito da NATO", antecipa João Queiroz.
Os últimos dados do Eurostat, divulgados em dezembro e relativos ao período entre janeiro e outubro de 2018, mostram que mais de metade das exportações britânicas têm como destino países extra-UE, ao contrário de Portugal, por exemplo, que exporta apenas 24% para fora da UE.
Também do lado das importações, o Reino Unido importa 53% de países intra-UE, enquanto Portugal importa 76% de países intra-UE, por exemplo, o que traduz uma dependência muito maior.
Questionado sobre se o impacto será maior para a UE no seu conjunto ou para o Reino Unido, Rui Bernardes Serra considera que o impacto deverá ser maior para Londres, o que "já tem vindo a acontecer desde o pós referendo".
O economista-chefe do Montepio recorda que, no pós grande recessão internacional, o Reino Unido vinha a crescer mais do que a UE, mas cresceu menos em 2016, 2017 e 2018.
"Tal deveu-se, por um lado, ao forte aumento da incerteza (com impacto nas decisões de investimento e de aquisição de bens duradouros), mas também aos fortes efeitos da queda da libra na inflação e no consumo privado", explica.
"Além disso, a crescente incerteza relativamente à futura relação comercial entre o Reino Unido e a UE levou à deslocalização de bancos e de empresas de investimento da praça de Londres para outras importantes localizações europeias, como Frankfurt, Paris ou Dublin", acrescenta.
João Queiroz também considera que, no curto prazo, o impacto tenderá a ser mais negativo na Inglaterra, refletindo-se, nomeadamente, na rápida depreciação da libra, na contração da economia britânica, no aumento do défice do setor Estado e na intervenção do Banco de Inglaterra para apoiar o setor bancário e financeiro.
O diretor da banca 'online' do Carregosa antecipa inicialmente "uma reação negativa de elevado ímpeto", que tenderá a desvanecer no médio prazo e recorda que, desde o segundo semestre de 2016 que a Inglaterra tem colocado um esforço acrescido no diálogo com maiores economias emergentes, como os países da Commonwealth.
Mas as atuais restrições e desafios decorrentes de temas como imposição de "tarifas" ao livre comércio e incertezas como "populismos" que tendem a diminuir a propensão à maior abertura das economias, têm vindo a contrariar esta intervenção de diplomacia económica, afirmou.
Rui Bernardes Serra também considera que serão mais as desvantagens do que as vantagens para o Reino Unido, "quer devido aos efeitos ao nível do comércio livre, quer devido à perda de importância de Londres enquanto principal praça financeira da Europa".
"A incerteza em relação ao tratamento dos estrangeiros também tem o condão de penalizar o crescimento do país, tornando o Reino Unido menos apelativo para a imigração, que tem constituído um fator importante para o crescimento do país por várias razões: a imigração contribui para o crescimento populacional e para conter o envelhecimento da população; os imigrantes tendem a ser, normalmente, mais empreendedores do que a média da população; os imigrantes aceitam empregos que os locais já não estão dispostos a aceitar", declarou.
Para João Queiroz, Reino Unido e UE "possuíam já um grau de integração relevante e os desafios económicos eram comuns num mundo globalizado e mais digitalizado, que passam por um processo de reequilíbrio entre os países desenvolvidos (G7) e as economias emergentes (E7), e que irão perder mais com o afastamento do que se mantivessem os anteriores (des)equilíbrios, que ainda são dificilmente quantificáveis e não se esgotam nos temas orçamentais, fiscais, legislativos, aduaneiros nem administrativos", conclui o diretor da Banca.
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