Inundações mataram pelo menos 169 pessoas.
Um mês depois do início, em 29 de Abril, das chuvas torrenciais e das maiores cheias da história do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, no extremo sul do país, que mataram pelo menos 169 pessoas e deixaram 56 desaparecidas, dezenas de cidades continuam debaixo de água em toda a região, incluindo a capital estadual, Porto Alegre, onde quase 1,5 milhão de habitantes está esta quarta-feira com a vida totalmente paralisada e sem qualquer perspetiva de futuro. As violentas cheias, que desalojaram mais de 650 mil pessoas, este 29 de Maio ainda mantinham 637 mil fora de suas casas.
Dessa imensa legião de pessoas que perderam casa, móveis, roupas, carro e tudo o mais que conseguiram ao longo de uma vida inteira, 50 mil que não conseguiram acolhimento em casa de familiares ou amigos ainda estavam esta quarta-feira em abrigos montados às pressas em escolas, ginásios, igrejas e outros espaços improvisados. Elas vivem o dia a dia nesses locais sem terem a menor noção do que o futuro lhes reserva, recebendo comida, roupas e produtos de higiene doados por brasileiros de todas as partes do país solidários com o seu drama, e têm atendimento médico, psicológico e carinho de milhares de voluntários, que, de alguma forma, tentam minimizar o sofrimento de pessoas de todas as idades que até ao início da maior tragédia climática do sul do Brasil nem ao menos conheciam.
Porto Alegre tinha esta quarta-feira a maior parte dos seus bairros, como Sarandi, Menino Deus e Humaitá, para citar alguns dos mais afectados, ainda inundados pelas águas do Rio Guaíba, por esgoto e pelas chuvas, que param por algumas horas mas voltam logo depois, fazendo a população reviver o drama diversas vezes. Hoje, pela medição oficial no Cais Mauá, o Rio Guaíba, que começa a inundar a cidade a partir dos 3 metros de altura e em 5 de Maio atingiu 5,35 m, estava com 3,83 m, ou seja, tinha baixado bastante mas em cima das ruas e nas casas das pessoas ainda havia muita água, esgoto, animais mortos e lixo.
Em Canoas, outra grande cidade na área metropolitana de Porto Alegre, que tem cerca de 357 mil habitantes, diversos bairros também continuavam inundados esta quarta-feira, principalmente os mais perto do rio, como Matias Velho, que ficou tristemente famoso duas semanas atrás pelo resgate de um cavalo, batizado de Caramelo, em cima do telhado de um prédio, onde estava há vários dias em desespero cercado por vários metros de altura de água da cheia. Em Eldorado do Sul, quase todos os 100 mil habitantes foram removidos e continuam sem poder voltar para as suas casas, até porque, depois de 30 dias submersas, elas já não existem ou não têm qualquer probabilidade de voltarem a ser habitadas.
Longe dali, no extremo sul do estado, a situação não é muito melhor. Toda a água dos principais rios que cortam o Rio Grande do Sul e primeiro passam por Porto Alegre depois escoam para a Lagoa dos Patos, a maior da América do Sul, que também está com o nível muito acima do normal e já inundou grandes cidades, obrigando os seus moradores a também fugirem somente com a roupa do corpo.
Em Pelotas, o nível das águas que transbordaram da lagoa cobria esta quarta diversos bairros com mais de 85 cm de água, e em Rio Grande, outra cidade importante ainda mais ao sul, o nível das águas nas ruas e nas casas chegava quase a um metro. No centro do estado, no Vale do Rio Taquari, onde as chuvas torrenciais começaram a cair primeiro um mês atrás, inúmeras cidades continuam ilhadas, pois as pontes que ligavam umas às outras colapsaram.
Num caso gritante, as pontes que ligavam as cidades de Arroio do Meio e Lajeado foram simplesmente arrancadas pela força da enxurrada logo no início da tragédia, e as provisórias instaladas pelo Exército também foram levadas na semana passada, durante mais uma chuva forte. Numa situação que se repete por todo o outrora rico estado, com uma agricultura e indústria muito fortes que foram totalmente devastadas, a travessia entre Arroio do Meio e Lajeado é feita em botes do Exército, que levam somente cinco pessoas por vez, todas com coletes salva-vidas, e somente quando a corrente permite fazer a travessia com um mínimo de segurança.
Os governos de Lula da Silva, fortemente criticado pela lentidão da resposta à tragédia, do estado e de boa parte das cidades anunciaram ao longo deste mês medidas de emergência de apoio a quem perdeu tudo, mas a verdade é que até agora nenhuma dessas ajudas foi realmente implementada, e não fosse a heroica atuação de voluntários provenientes de todo o Brasil, a tragédia estaria ainda mais insuportável. O auxílio "imediato" de aproximadamente 927 euros prometido por Lula para cada pessoa afetada para ao menos ter como fazer face às despesas do dia a dia, até hoje não foi pago, e os governos central, regional e municipais acusam-se mutuamente de má vontade e excesso de burocracia num momento em que, na verdade, nada funciona no Rio Grande do Sul a não ser a solidariedade dos cidadãos uns com os outros.
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