Até à missão ‘Deep Impact’, o homem desconhecia o interior dos cometas - uma espécie de fóssil do Sistema Solar. Agora sabe-se que a composição externa – a única observável da Terra – é diferente da interna, provando que o estudo da cratera aberta, na madrugada de segunda-feira, pela colisão de um módulo suicida contra o Tempel 1, pode revelar o mistério da origem da vida.
Acontece que, como a ciência não se faz em dois dias, é preciso esperar uma semana para a nuvem cónica de gases (carbónicos e de água) e poeiras assentar.
“Os cientistas estão a provocar a natureza para que ela responda ao que desconhecem”, afirma Pedro Lacerda, especialista no estudo de cometas. Mas as respostas ainda são poucas e surgem pela análise das fotos recolhidas no momento da colisão, pelo ‘Impactor’, e pela ‘Flyby’.
A primeira observação do embate mostra dois clarões sucessivos no astro. “Era possível observar, entre a nuvem cónica de fumo e gases, outra explosão interior”, diz o astrofísico português. De acordo com a Nasa, os dois clarões significam que o projéctil atingiu materiais diferentes, no exterior e interior do cometa.
Desde logo, provou-se que há água à superfície do Tempel 1. A descoberta não é surpreendente, mas tem um significado especial para as teorias da origem da vida: Apenas terá acontecido na Terra devido ao impacto com um astro.
A missão ‘Deep Impact’ depende agora das fotos recolhidas, até Agosto, pela ‘Flyby’. Mas a mais fascinante foi tirada pelo módulo suicida – a 30 quilómetros e três segundos antes de se despenhar – que “revela fissuras com menos de quatro metros de diâmetro, à superfície do Tempel 1”, diz Michael A’Hearn, investigador principal da missão da Nasa.
Os cientistas não esperavam chegar tão perto da superfície do Tempel 1. Agora, a sonda mãe aguarda que a poeira assente para recolher, possivelmente, fotos do interior da fissura, do tamanho de um estádio de futebol e profundidade de 14 andares, aberta nesta última vitória.
A EXPLOSÃO NO ESPAÇO OBSERVADA DE LISBOA
Rosa Doran, do Núcleo Interactivo de Astronomia, foi uma das astrofísicas que acompanhou em Portugal, no Instituto Geográfico do Exército (IGeoE), a colisão do ‘Impactor’ com o Tempel 1. Uma missão assistida ainda pela sonda ‘Flyby’, que enviava as imagens para os satélites da Nasa. “O cometa é um fóssil do Sistema Solar e, para os cientistas, estudá-lo é como para um arqueólogo descobrir ossadas de um dinossauro”, diz a especialista. “Acompanhámos com a prata da casa.”
O momento que marca a primeira vez os homens atingiram o interior de um cometa, só é visível através do aumento (em seis vezes) da intensidade de brilho emitido por força do violento impacto. Aliás, através dos telescópios instalados no IGeoE apenas se distinguia um ponto muito brilhante, que facilmente se confunde com uma estrela. Mas há uma explicação para estas imagens, meramente, representativas. A partir do nosso País, apenas se fazem observações por astrónomos amadores. Os astrofísicos não as utilizam para fazer ciência. “Servem apenas para lembrar que é bonito olhar para o Universo”, diz Rosa Doran. A comunidade científica nacional utiliza – tal como os astrofísicos de qualquer país – os grandes telescópios, instalados em países como Canárias, Suécia, ou, como membros do ESO (Observatório Europeu do Sul), o VLT (Chile).
HUBBLE GRAVA O IMPACTO EM ÓRBITA
Às 06h57 em Lisboa de segunda-feira, a missão ‘Deep Impact’ causou uma explosão brilhante captada pelo telescópio espacial Hubble – há 15 anos em órbita, a 600 quilómetros de altitude. A primeira imagem é das 6h51, a segunda, das 07h00. O brilho causado é um reflexo da luz solar nas particulas emitidas pelo cometa Tempel 1.
UM DIA DEPOIS...
Um dia depois do impacto do ‘Impactor’ contra o cometa, abriram-se muitas portas à ciência, mas prematuras. Segundos após a colisão o espectro de gás em torno do Tempel 1 alterou-se e, isto, mostra que a sua composição externa – a única que era observável – é diferente da interna. Sabe-se agora que há água à superfície. Além do mais, o núcleo deverá ser poroso e fraco condutor de energia.
NUVEM DE POEIRA
Durante cerca de uma semana, após o impacto, o cometa está envolto numa densa nuvem de gases e poeiras. Só depois de assentar, será possível obter imagens precisas da cratera e conhecer a composição. Os dados recolhidos vão levar muitos anos até produzirem conclusões.
PORQUÊ O TEMPEL 1?
A Nasa tem por base, para esta missão, a sua rapidez e custos reduzidos. A ‘Deep Impact’ teve início, através do lançamento das duas sondas – ‘Flyby’ e ‘Impactor’ – a 12 de Janeiro e custou 295 milhões de euros. No entanto, para escavar um cratera observável teria que ter uma área não muito pequena - neste caso é semelhante à cidade de Lisboa. Por último, o movimento de translação do cometa teria que ser lento o suficiente para que a ‘Flyby’ pudesse gravar.
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