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Comunicação social da Ucrânia em risco após cortes de financiamento dos EUA

Meios apelaram a donativos internacionais, juntamente com a organização Repórteres Sem Fronteiras.

19 de setembro de 2025 às 18:06

O corte da ajuda externa dos Estados Unidos (EUA) está a pôr em risco a sobrevivência de muitos meios de comunicação social ucranianos, que esta sexta-feira apelaram a donativos internacionais, juntamente com a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Promovido pela RSF e outras sete organizações ucranianas, o Fundo Internacional para a Reconstrução dos Media Ucranianos (IFRUM) pretende mobilizar 96 milhões de dólares (82 milhões de euros) nos próximos três anos.

A União Europeia (UE) já avançou com 400 mil euros, adiantou a representante da RSF na Ucrânia, Pauline Maufrais, esta sexta-feira à agência Lusa em Londres, durante um evento de lançamento no Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD).

No entanto, o valor necessário poderá ser maior, pois o montante foi calculado num relatório realizado antes dos cortes de financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla inglesa) ordenados pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, no início deste ano.

Dados mais recentes recolhidos pela organização não-governamental (ONG) ucraniana Instituto de Comunicação em Massa (Institute of Mass Comunication) descobriu que "90% a 98% dos jornalistas e meios de comunicação social beneficiavam de subvenções e de formação americana", revelou esta sexta-feira a ativista, Iryna Zemlyana.

O resultado é que mais de metade (60%) está a pensar reduzir serviços e programas.

O Instituto também estima que 333 meios de comunicação social regionais foram forçados a encerrar devido à crise financeira causada pela guerra, ameaças dos russos e a incapacidade de operar por funcionarem em territórios ocupados.

"A guerra não destruiu apenas a infraestrutura civil, mas também as empresas. Os modelos de financiamento através da publicidade são impossíveis. E as assinaturas não funcionam bem porque os ucranianos preferem doar para o exército e também porque ficaram mais pobres", explicou Zemlyana à Lusa.

Pauline Maufrais acrescentou que "a população [ucraniana] não está habituada a pagar pela comunicação social, está habituada a que seja gratuita, e tem como alternativa canais anónimos gratuitos da [rede social] Telegram que divulgam informações não verificadas, o que não é jornalismo".

Os jornalistas "sobrevivem com muita dificuldade, o que significa que os salários são baixos, que alguns deles interromperam reportagens no terreno ou tiveram que parar de trabalhar em temas como a investigação de crimes de guerra russos", salientou.

A responsável da RSF defende que os meios de comunicação social ucranianos "precisam de apoio institucional sustentável para poderem trabalhar a longo prazo" e para que "não fiquem sobrecarregados pelo facto de precisarem de procurar financiamento".

O IFRUM está aberto a doadores institucionais e também privados, como empresas que sejam investidoras e tenham interesses em ajudar as "vozes independentes da democracia" na Ucrânia.

"Acreditamos que é muito importante porque, mesmo enfrentando uma guerra, o panorama mediático ucraniano é muito diverso, composto por muitos tipos diferentes de meios de comunicação a nível nacional, regional e local, que estão a cobrir os crimes de guerra russos, a invasão, mas também os abusos políticos, a corrupção e o uso indevido de fundos", disse Maufrais à Lusa.

Segundo o Instituto de Comunicação em Massa, as tropas russas cometeram 841 crimes contra jornalistas e meios de comunicação social na Ucrânia desde o início da invasão, em fevereiro de 2022, até 24 de agosto de 2025.

Doze jornalistas foram mortos no exercício das suas funções profissionais, mais de 40 ficaram feridos, pelo menos 26 jornalistas ucranianos continuam em cativeiro.

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