No Rio de Janeiro, foliões fizeram questão de ir para as ruas exaltando as diferenças de género e de raça, realçando a sua cor e opção sexual.
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Fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo há apenas dois meses, e aos seus polémicos filhos Carlos, Eduardo e Flávio estão a dar o tom à folia de Carnaval nas ruas de todo o Brasil. Declarações agressivas dos filhos, escândalos envolvendo o partido e a família e a estranha postura do próprio Bolsonaro, que depois de tomar posse parece ter-se ausentado das funções e não concretizou as principais promessas de mudança, deram o mote para fantasias, marchinhas e gritos carnavalescos de norte a sul do país, umas vezes de forma meramente divertida, outras até de forma ofensiva, mas todas mostrando claramente que a lua-de-mel entre o presidente e os cidadãos está menos harmoniosa do que seria de esperar para um prazo tão curto.
Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Olinda e Recife, por exemplo, para citar apenas os principais pólos do Carnaval de rua no Brasil, muitos foliões desfilaram fantasiados de laranja, numa alusão às candidaturas fictícias que o partido de Bolsonaro criou para desviar fundos públicos eleitorais, e, principalmente, aludindo a Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente, acusado de, através do seu motorista, ficar com parte dos ordenados dos seus assessores. "Laranja" é como popularmente se chama no Brasil aos "testas-de-ferro", pessoas usadas por outros para assumirem atos que podem comprometer quem realmente os fez ou deles se beneficiou.
Na capital paulista, uma das marchinhas mais entoadas pelas multidões que estão nas ruas há vários dias parodia uma antiga marcha dos adeptos do clube de futebol mais famoso da cidade, o Corinthians, que diz a certa altura "Doutor, eu não me engano, meu coração é corintiano". Na parodia que rapidamente caiu no gosto dos foliões por toda São Paulo, os versos da marchinha mudaram para "Doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano", numa alusão crítica à forte ligação que o presidente e os filhos têm às milícias do Rio de Janeiro, grupos paramilitares criminosos que rivalizam com os traficantes de droga na violência e terror com que agem nos bairros sobre seu domínio.
Por todo o país foliões também foram para as ruas empunhando grandes biberons cuja ponta era um pénis de borracha, numa alusão a uma das muitas notícias falsas disparadas nas presidenciais de Outubro passado contra Fernando Haddad, adversário de Bolsonaro, e atribuídas à campanha deste. Essa fake news, disparada aos milhões para computadores e telemóveis, dizia que se Haddad vencesse as eleições crianças nas creches públicas iriam receber orientação e kit gay, que incluiria um biberon daqueles, numa sátira exagerada às críticas de Bolsonaro ao ensino nas escolas de orientações sexuais, que o presidente, que é evangélico, considera um incentivo à homossexualidade.
No Rio de Janeiro, foliões fizeram questão de ir para as ruas exaltando as diferenças de género e de raça, realçando a sua cor e opção sexual, e mulheres fizeram questão de gritar bem alto a sua condição, o orgulho pela sua feminilidade e a sua capacidade em qualquer situação pessoal e ramo profissional. Jair Bolsonaro ao longo da sua trajetória política proferiu inúmeras frases de cariz preconceituoso contra as mulheres, gays e negros, e os foliões não perdoaram.
Em Olinda, no estado de Pernambuco, vários dos tradicionais bonecos gigantes retratando os Bolsonaro de forma crítica e irónica subiram e desceram as íngremes ladeiras embalados pela multidão com refrões como "Ai ai, ai, bolsonaro é o carai", para evitarem dizer o palavrão, no entanto bem explícito. Esse refrão chegou bem longe, a Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, onde também fez sucesso um outro, bem mais explícito, repetido por milhares de foliões numa nova manifestação de desagrado com a atuação do presidente, cuja letra "Hei, Bolsonaro, vai levar no c..." irritou a polícia.
O capitão que comandava o esquema de segurança no centro de Belo Horizonte neste sábado fez parar a folia, ameaçou suspender a festa e informou os organizadores dos desfiles que não iria permitir sátiras ou ofensas de cariz político, o que provocou grande revolta já que esse tipo de manifestação crítica a políticos é uma tradição no Carnaval. Respondendo à indignação que a censura provocou, o comando-geral da polícia, subordinada ao governador Romeu Zema, aliado de Bolsonaro, informou mais tarde que realmente a crítica política estava proibida, alegadamente para evitar reações de pessoas que pensam diferente.
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