Não existem registos de festas desse tipo e os vídeos partilhados nas redes são de uma iniciativa realizada ainda em Barcelona.
Deputados do Chega e da Iniciativa LIberal denunciaram que os ativistas da Flotilha Global Sumud pararam em Ibiza ou noutras ilhas Baleares para participar em festas noturnas, mas o vídeo que alguns partilham é anterior à partida de Barcelona.
Na terça-feira, 9 de setembro, numa entrevista na CNN e em tom de crítica às acusações de populismo que fazem ao Chega, André Ventura queixou-se da "hipocrisia de algum jornalismo" e afirmou três vezes que as tripulações da Flotilha para Gaza, que incluem a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, fizeram escala em Ibiza para participar em festas noturnas: "param em Ibiza, param em Ibiza, param em Ibiza, onde estiveram a fazer uma festa durante a noite e a notícia (...) é sobre a maior missão de solidariedade da história com a Palestina".
Na mesma noite, cerca de uma hora antes, o deputado Mário Amorim Lopes, da Iniciativa Liberal (IL), fez afirmações no mesmo sentido na rubrica Frente a Frente, do Now Canal, entretanto partilhadas pelo partido no X.
"Só um contexto sobre esta flotilha ou flautilha ou bote, enfim, no fundo é um cruzeiro de ativistas que vai em direção a Gaza, nada contra, não estou a julgar isso. (...) Vai em direção a Gaza mas teve tempo para fazer uma paragem em Ibiza, para ir para a noite de Ibiza e estar em diversão", afirmou o deputado da IL perante a dirigente do BE Joana Mortágua que alertou tratar-se de "uma mentira total". No entanto, Mário Amorim Lopes insistiu que "há vídeos sobre isso a documentar o bote da flautilha, o cruzeiro, que parou em Ibiza para uma noite de celebração."
Dois dias antes, a 7 de Setembro, o deputado Rui Paulo Sousa também escreveu na rede social X (antigo Twitter) que "esta é a luta da Mórtagua e das suas 'amigas' pela independência da Palestina... em todas as festas das ilhas Espanholas!", numa publicação acompanhada por um vídeo de uma ativista a dançar em dois momentos distintos, o primeiro num barco e o segundo numa festa ou concerto.
As primeiras imagens já tinham sido partilhadas na mesma data por André Ventura, com indicação de serem do "tal barco onde vai a Mariana Mortágua levar supostamente ajuda ao Médio Oriente" e que para o presidente do Chega "parece mais um bacanal pago com dinheiros duvidosos".
Já o vídeo da "festa em Ibiza" circulava desde a véspera, sobretudo devido a uma publicação da página espanhola "Mediterráneo Digital", um conhecido meio de difusão de desinformação, que insinuava em tom sarcástico que aquelas eram imagens de uma "paragem técnica" em Ibiza.
Essa publicação, que conta já com cerca de 4 milhões de visualizações, foi partilhada milhares de vezes, incluindo por contas de extrema-direita portuguesas e por várias figuras públicas nacionais.
O assunto teve também direito a comentário num dos canais de notícias, sem exibição das imagens, embora nas redes circule uma montagem que junta o comentário do 'analista' aos vídeos.
Uma pesquisa reversa das imagens da alegada festa em Ibiza ou noutra ilha das Baleares revela rapidamente que existem vários vídeos dos dias 30 e 31 de agosto, gravados ainda em Barcelona, que demonstram que as imagens que circulam nas redes não foram captadas na escala técnica que a flotilha fez nas Baleares devido ao mau tempo.
Os resultados permitem também identificar uma das ativistas visadas, a espanhola Ana Alcalde, que nas suas redes sociais pessoais e familiares publicou vários vídeos das iniciativas realizadas em Barcelona, bem como o vídeo da partida onde surge a dançar no barco que a transporta.
Devido à desinformação em que se viu envolvida, a ativista publicou também um esclarecimento sobre as imagens que circulam nas redes e em alguns media espanhóis ligados à extrema-direita.
Além deste desmentido, a organização da flotilha disponibiliza um mapa das rotas e da localização atual da maior parte das embarcações, cuja informação atesta que a frota humanitária fez paragens em Maiorca e Menorca, mas não em Ibiza. Estes dados são públicos e podem ser confirmados através das plataformas de monitorização de tráfego marítimo.
A Lusa Verifica enviou algumas questões ao presidente do Chega, nomeadamente sobre qual a origem da informação que levou à afirmação que fez na CNN, mas não obteve respostas.
Já o deputado Rui Paulo Sousa assume que partilhou "a informação" que viu partilhada "através de publicações efetuadas no X, onde podemos ver uma das "ativistas" dos barcos da flotilha numa festa supostamente em Ibiza."
Como exemplos, o deputado do Chega partilhou capturas de ecrã de três publicações com o vídeo enganador do Mediterráneo Digital, duas delas oriundas de contas conhecidas pelos conteúdos desinformativos e de ódio que partilham quase diariamente em Portugal e em Espanha.
Quanto ao deputado da IL, já publicou um "desmentido oficial" no X, onde assume parte do erro. "Em debate com a Joana Mortágua, referi que a embarcação fez uma paragem técnica em Ibiza e parte dos passageiros aproveitou para ir ou fazer uma festa. Errei. Na verdade foi em Menorca, que também faz parte das Baleares, mas de facto não é Ibiza. Jamais usaria tal informação sem a confirmar primeiro, coisa que fiz. Não creio que o OkDiario seja um projecto sionista, pelo que só posso tomar por verdade o que aqui foi noticiado."
Questionado pela Lusa Verifica, Mário Amorim Lopes explica que apenas leu e pretendia referir-se a este artigo. "Eu não falei de vídeo nenhum. Usei essa notícia como referência para o que disse, enganei-me foi na ilha balear, foi Menorca e não Ibiza. Mas a notícia é taxativa, "festa em rua de Menorca", se é 'fake news' do OkDiario, então há que fazer 'fact check' ao OkDiario."
No entanto, o artigo referido refere uma alegada festa numa 'cala' de Menorca, que se traduz para enseada e não rua ('calle' em castelhano) e também não ilustra qualquer festejo. Dos vídeos anexos ao artigo um já não está disponível e reportava-se à partida de Barcelona, e o que ainda lá está, retirado do X, mostra apenas a ativista Ana Alcalde a bordo de um dos barcos, a explicar que há uma tripulante que canta bem e outro que toca e que isso ajuda a animar a tripulação naqueles momentos de escala técnica.
É falso que os ativistas da Flotilha Global Sumud, uma iniciativa humanitária que segue em direção à Faixa de Gaza, tenham aproveitado uma escala técnica nas ilhas Baleares para irem a festas noturnas em Ibiza ou em qualquer outra ilha. Não existem registos de festas desse tipo e os vídeos partilhados nas redes são de uma iniciativa realizada ainda em Barcelona, antes da partida da frota com mais de duas dezenas de embarcações atualmente ancoradas na Tunísia.
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