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"Fui sacrificada no altar do vício": O relato da mulher violada por 51 homens em França

Mulher apanhou quatro doenças sexualmente transmissíveis durante o período de abusos. Marido partilhava vídeos das violações em site para 'voyeurs'.

06 de setembro de 2024 às 18:40

"O meu corpo está quente, não está frio, mas morri na minha cama". Gisèle Pélicot foi violada por 51 homens ao longo de dez anos num esquema montado pelo marido. Esta quinta-feira, esteve no tribunal em Avignon, França, onde falou durante 1h30 sobre os crimes de que tinha sido vítima. Durante o julgamento, a mulher, de 71 anos, não conseguiu esconder o terror ao descrever o que sentiu ao ver imagens e vídeos das gravações das agressões sexuais. "Cada vídeo é mais atroz do que o outro. Cenas de barbárie, violações... Pergunto-me como aguentei. Fui sacrificada no altar do vício", afirmou, citada pelo Le Monde

Gisèle descobriu que era drogada pelo marido e alvo das agressões sexuais em 2020, quase uma década depois de os crimes terem começado. A mulher foi contactada pela polícia de Carpentras que já estava a investigar o seu marido. Naquela altura, via Dominique Pélicot como um "um grande homem" e estranhou estar a ser chamada pelas autoridades. Foi então que o investigador que a recebeu apresentou-lhe algumas fotografias tiradas durante as violações. 

"Numa das fotografias estou deitada na minha cama, imóvel, e estou a ser violada. É uma cena bárbara. O meu mundo está a desmoronar-se e tudo o que construí ao longo de 50 anos também. Francamente, foi uma cena de terror para mim", disse. 

Dominique Pélicot recrutou os violadores da sua mulher e publicou os vídeos num site agora fechado para 'voyeurs' chamado ‘a son insu’, que se traduz como ‘sem que ele, ou ela, saiba'.

No total, foram encontradas cerca de quatro mil fotografias e vídeos nos vários computadores, pen drives e discos rígidos do marido. Imagens das cerca de duzentas violações de que foi vítima ao longo de dez anos, primeiro na região parisiense, mas sobretudo em Mazan, a comuna de seis mil habitantes da região de Vaucluse para onde o casal se mudou em março de 2013.

No dia em que descobriu tudo, Gisèle recusou-se a ver os vídeos que eram gravados pelo marido. Confessa que só o conseguiu fazer este ano à medida que o julgamento se aproximava, aconselhada pelo advogado. 

Na maior parte das vezes, os violadores não usavam preservativo. Apesar do número de homens por quem foi abusada, Gisèle escapou ao HIV, à Sífilis e à Hepatite. No entanto, chegou a contrair outras quatro doenças sexualmente transmissíveis no período dos abusos. 

"Tenho um sentimento de nojo. Responsabilizem-se pelos vossos atos pelo menos uma vez na vida", dirigiu aos arguidos.

"Falo em nome de todas as mulheres que são drogadas e que não sabem, falo em nome de todas as mulheres que podem nunca vir a saber (...), para que mais nenhuma mulher tenha de sofrer de submissão química", prossegue, lembrando que foi por isso que recusou, na segunda-feira, que o julgamento decorresse à porta fechada.

No banco dos réus, o marido manteve a cabeça baixa. Foi detido em setembro de 2020, depois de ter filmado sob as saias de três mulheres num centro comercial de Carpentras, o que levou à descoberta de todo o caso. Já tinha sido detido por infrações semelhantes na região parisiense, em 2010, mas foi apenas multado em 100 euros e a sua mulher nunca foi informada.

"Houve omissão de socorro a uma pessoa em perigo. Perdi dez anos da minha vida e nunca os vou compensar", acusou Gisèle.

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