Repórter alemã viajou para o país em guerra em 2015 no sétimo mês de gestação e foi raptada.
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Corria o ano de 2015 quando a jornalista Janine Findeisen embarcou numa viagem para a Síria. O objetivo era de encontrar uma ex-colega de turma que se havia juntado ao Daesh anos antes.
A alemã sabia que Laura tinha partido para o Paquistão em 2005 para se alistar às forças jihadistas e acreditava na promessa de que esta a iria ajudar a infiltrar-se no dia a dia daqueles que combatiam pelo Daesh na Síria, numa altura crítica para o país.
Na altura, Janine estava grávida de sete meses, mas isso não a impediu de apanhar um avião para Antakya, na Turquia, e de, com a ajuda de contrabandistas, passar a fronteira para o país vizinho, ensombrado pelo terror da guerra civil e pelo pesadelo dos refugiados.
A si juntou-se também a mãe de Laura, que ao chegar à Turquia acabou por se arrepender e regressou à Alemanha. Mas nem os avisos de perigo iminente pareciam demover Janine, que prosseguiu viagem.
Vítima de cilada junto à fronteira
Quando finalmente conseguiu chegar a território sírio, a repórter encontrou a amiga Laura, com quem passou oito dias, e em quem depositou a sua segurança. Durante esse período de tempo, a grávida entrevistou a ex-colega e um comandante da Frente Al-Nusra, a organização terrorista da qual esta fazia parte.
As duas realizaram ainda curtas viagens pelo norte da Síria, onde a jornalista testemunhou e filmou a forma de viver dos que se encontravam sob o domínio do Daesh, entre bombardeios e explosões. Quando considerou ter material suficiente para uma reportagem que fizesse jus ao que presenciou, Janine apanhou um táxi para a fronteira com a Turquia, acompanhada por um combatente daquele grupo terrorista.
Pouco tempo antes de chegar à fronteira, o táxi parou de repente. Foi aí que a alemã diz ter sentido o primeiro mau pressentimento: "Durante a viagem o carro acelerava e desacelerava ao acaso. De repente fomos parados por vários homens mascarados que erguiam [metralhadoras] Kalashnikov. Obrigaram o motorista e o homem que seguia comigo a abandonar a viatura. De repente um deles sentou-se ao meu lado. Morri de medo", contou ao canal de televisão alemão DW
Janine não demorou muito tempo a aperceber-se que tinha sido sequestrada. Foi vendada e levada para um local desconhecido enquanto os raptores se apoderaram do táxi.
"Sabia que iria ser decapitada em frente a uma câmara"
Aterrorizada e prestes a dar à luz, Janine acabou por ficar nas mãos dos sequestradores durante quase um ano. A cada dois meses, aproximadamente, mudavam-na de sítio. Em todas as ocasiões foi vendada para que não pudesse ver os locais para onde estava a ser transportada.
Sem saber como se livrar do terror, a jornalista agiu sempre de acordo com o que os raptores exigiam. Permaneceu sempre calada, sem gritar e nunca tentou escapar. Ficava trancada num quarto onde lhe era levada roupa e comida. Durante uma pequena altura deixaram-na ter uma televisão, a sua única forma de contacto com o exterior.
À medida que o tempo passava, a jovem jornalista questionava-se, preocupada, sobre como e em que condições iria ter o seu bebé. Simulou por várias vezes que entrava em trabalho de parto, na esperança de que os sequestradores a levassem para um hospital. Sem sucesso.
"Acabaram por levar uma ginecologista do norte da Síria até ao sítio onde eu estava para me ajudar no parto. A médica estava a ser ameaçada para o fazer, uma vez que tinham também feito refém o seu marido. Disseram que se algo me acontecesse ou ao bebé, matavam o companheiro dela", explicou.
Os dias continuavam a passar e Janine não sabia o que seria o dia de amanhã para si e para o seu filho. Ao longo do tempo, apercebeu-se que o objetivo dos raptores seria o de mais tarde ou mais cedo, "a decapitarem em frente de uma câmara". No entanto decidiu permanecer otimista. Para enfrentar a dor e o pânico, a alemã garante que pensava em todas as coisas boas que tinha na sua vida e nos momentos felizes que já tinha vivido em liberdade.
Disputa entre grupos salvou-lhe a vida
Após 11 meses mantida em cativeiro, a jovem acabou por ser resgatada por homens de máscara que invadiram a casa onde ela se encontrava com o filho, que era apenas um bebé com meses de vida. "Chamaram por mim e levaram-me. Na altura não percebi o que estava a acontecer. Presumi que fosse outro grupo terrorista e que me fossem voltar a sequestrar", conta.
No entanto, o que aconteceu foi bem diferente. Os homens que a resgataram daquele local levaram-na para a fronteira turca, onde agentes da segurança alemã a esperavam. Mais tarde, a jornalista ficou a saber que havia sido salva por elementos da Frente Al-Nusra, que prometeram honrar a garantia de segurança que lhe tinham prometido um ano antes.
Hoje, já em paz e segurança, Janine reconhece a irresponsabilidade que foi viajar para um país em guerra durante a gravidez. A jornalista acabou por um escrever um livro onde relata os dias de terror que viveu sob a alçada de um grupo terrorista num dos países mais perigosos do mundo.
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