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População de Moçambique relata mortes e empresa mineira suspende operação logística

Grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado mataram quatro pessoas num ataque no distrito de Ancuabe.

09 de junho de 2022 às 23:35

Grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado, norte de Moçambique, mataram na terça-feira quatro pessoas num ataque no distrito de Ancuabe, entre as quais dois seguranças da empresa Grafex, que explora grafite na região, relataram esta quinta-feira fontes locais.

O incidente, na sequência de outro no domingo, levou uma outra empresa que explora grafite, a australiana Syrah Resources, a suspender as operações logísticas na estrada que liga a mina de Balama à capital Pemba e ao porto de Nacala para abastecer fabricantes de baterias para carros elétricos noutros países.

"Dois guardas foram mortos pelos insurgentes na madrugada [de terça-feira]", disse à Lusa fonte da família de um dos seguranças abatidos, acrescentando que as vítimas foram decapitadas e os seus corpos abandonados no local.

Uma outra fonte da força local, milícia que combate a insurgência, referiu que outras duas pessoas foram mortas pelos rebeldes pelas 11:00 (10:00 em Lisboa) em Muaguide, uma comunidade recôndita do distrito de Ancuabe.

"Um casal foi morto na comunidade de Muaguide. Estamos indignados porque isso aconteceu à luz do dia", acrescentou.

Os ataques começaram no domingo e são os primeiros relatos de violência associada à insurgência no distrito de Ancuabe, a 100 quilómetros de Pemba, uma zona que até agora considerada segura e que servia para abrigar deslocados.

Foi o próprio Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que na segunda-feira confirmou o ataque à aldeia de Nanduli, assegurando, ainda assim, que a situação de segurança estaria controlada "não obstante os atos de terrorismo que ainda prevalecem" com rebeldes a procurar mantimentos.

Na terça-feira, o governador de Cabo Delgado apelou à população para regressar às suas casas, dizendo também que as forças governamentais têm a situação controlada, numa tentativa de travar mais uma debandada geral em direção a Pemba ou outros sítios seguros.

Valige Tauabo falava com famílias que desde domingo vivem ao relento na vila de Metoro, que está a 27 quilómetros de Ancuabe.

Mas a sensação de insegurança agravou-se e está a ter impacto na atividade económica da zona sul de Cabo Delgado que tinha escapado aos efeitos da violência armada que dura há quatro anos e meio, sobretudo a norte, perto da fronteira com a Tanzânia.

"Os incidentes ocorreram entre 30 a 40 quilómetros da estrada N1, a principal rota de transporte entre a mina de Balama, o porto de Nacala e Pemba", referiu esta quinta-feira a Syrah Resources num comunicado à bolsa de valores australiana sobre os ataques no distrito de Ancuabe.

"A Syrah e o seu prestador de serviços de logística tomaram a medida cautelar de suspensão de todo o movimento de pessoal e de logística até que haja mais informações disponíveis", sendo que "as operações de mineração e processamento de grafite não estão a ser afetadas" em Balama, situada a 200 quilómetros de Ancuabe.

Supõe-se que as ações em diferentes locais remotos do distrito de Ancuabe sejam desencadeadas por rebeldes em fuga da ofensiva militar que está em curso desde julho de 2021, com apoio internacional, no extremo norte de Cabo Delgado (distritos de Palma, Mocímboa da Praia e Muidumbe), na zona dos projetos de gás.

A província é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

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