Para Fernando Nobre, a situação atualmente vivida no país "era previsível".
O presidente da AMI, Fernando Nobre, que em três ocasiões esteve no Afeganistão, acredita que a tomada total do país pelos talibãs acontecerá mais rápido do que é vaticinado, advertindo que uma "tragédia em vários sentidos" se avizinha.
A propósito da grande ofensiva dos talibãs contra as forças do Governo afegão que na última semana registou rápidos avanços no terreno -- os insurgentes controlavam na sexta-feira metade das capitais das 34 províncias afegãs e aproximavam-se da capital Cabul -- Fernando Nobre, fundador da Assistência Médica Internacional (AMI), falou à agência Lusa sobre o país que visitou e percorreu (em 2004, 2006 e 2008) e onde a organização portuguesa criou diversos projetos, nomeadamente em Jalalabad, no leste afegão e a terceira cidade do país.
Nesta cidade estratégica, que fica a meio caminho de Cabul e Peshawar (cidade paquistanesa junto à fronteira com o Afeganistão), a AMI estabeleceu uma escola e um centro de saúde adjacente para prestar auxílio aos alunos e à população da zona.
"O meu objetivo foi lá desenvolver um projeto, concretamente foi uma escola para 600 crianças", recordou Fernando Nobre, precisando que a escola, inaugurada em 2006, é frequentada, até hoje, por 300 meninas, durante o período da manhã, e por 300 rapazes durante o período da tarde.
Totalmente financiado pela AMI, tanto a construção como a continuidade do trabalho escolar, o projeto tornou-se uma realidade após várias reuniões no território afegão com muitos chefes tribais da etnia pashtun que, segundo relatou o presidente da AMI e médico, tiveram de entender "a razão de ser" dos planos da organização.
Para Fernando Nobre, a situação atualmente vivida no país "era previsível", na medida em que o Afeganistão é um país que tem uma geografia extremamente propícia "a tudo o que é guerra de guerrilha", mas também pelas características guerreiras dos povos afegãos e pelos desaires já vividos naquele território, "com os ingleses, com os russos e agora com os americanos e os seus aliados".
À Lusa, o representante da AMI afirmou acreditar que a tomada total do país pelos talibãs acontecerá mais rápido do que está a ser vaticinado, referindo que os talibãs estão a trabalhar "de forma metódica", têm uma planificação muito eficaz e conhecem particularmente bem o terreno.
Fernando Nobre também fez referência às recentes manobras dos Estados Unidos da América (EUA) e do Reino Unido, às quais se juntaram, entretanto, outros países ocidentais, para preparar a retirada dos seus diplomatas e outros cidadãos face à ofensiva talibã, que se encontra já às portas de Cabul.
"E quando o vento da derrota, da fuga se instala, as forças afegãs que vão ficar no terreno não vão ter capacidade de resistência. E acredito que a tomada total do Afeganistão pode ser muito mais rápida do que os três meses que vejo como prenúncio. Acho que será antes disso", declarou.
E reforçou: "Obviamente, as tropas afegãs não têm capacidade para resistir a um movimento tão estruturado e organizado como os talibãs (...) e daí se avizinha uma nova tragédia, uma tragédia em vários sentidos".
Em primeiro plano, segundo Fernando Nobre, uma "tragédia" ao nível dos refugiados.
"Não tenho a mínima dúvida que o fluxo se vai intensificar", declarou o presidente da AMI, apontando que os refugiados irão dirigir-se, por exemplo, para o Irão, para o Paquistão, nomeadamente em Peshawar (onde a AMI também ergueu um centro de saúde para apoiar os refugiados) ou até mesmo rumo a norte para as ex-repúblicas soviéticas do Turquemenistão, Uzbequistão e Tajiquistão.
"A segunda tragédia vai ser o impedimento para as mulheres de terem acesso à educação, como já fizeram durante a primeira ocupação, na medida que consideram que as meninas têm um destino para estar estritamente ao serviço da família", enumerou.
E em tom de conclusão e indo ao encontro do início da conversa com a Lusa, Fernando Nobre voltou novamente os seus pensamentos para Jalalabad e para a obra deixada pela AMI.
"A pena que começo a ter (...) é que quando eles tomarem Jalalabad a primeira coisa que vão fazer, se não partirem a escola toda, (...) vão impedir as meninas de frequentarem a escola como têm frequentado nestes últimos 16 anos", lamentou.
"Tenho muita pena, porque acho que a educação é o pilar basilar do desenvolvimento e da emancipação de qualquer cidadão, seja rapaz ou menina, mas em certos territórios obviamente é a única escapatória para as meninas poderem assumir um outro destino", finalizou.
A grande ofensiva dos talibãs contra as forças do Governo afegão começou no início de maio, após começar a retirada final das forças internacionais (EUA e NATO) do Afeganistão.
A saída dos militares estrangeiros do país da Ásia Central deve estar concluída no final deste mês, 20 anos depois do início da sua intervenção para afastar os talibãs do poder, após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, organizados pela Al-Qaida, grupo acolhido no Afeganistão.
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