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Duravam meia hora ou menos. Hoje, com intervalos, qualquer um chega quase a duas horas. Somando programas especiais, reportagens e informação desportiva, a diferença aumenta, e é abissal considerando que dois terços da população acede a pelo menos três canais de informação, um por cada operador generalista, 24 horas por dia, sem contar com os desportivos. Em 20 anos, a informação na TV nacional passou de três horas para uma centena de horas diárias.

Causas desta mudança na informação e nos nossos hábitos? A informação é dos géneros preferidos. Parece ter mais verdade que a ficção. Informamo-nos para nos integrarmos socialmente e por ser a informação um valor acrescido na vida profissional e pessoal. Outra razão fundamental: o custo de produção. As TV dão aos espectadores o que sai mais barato produzir: duas horas de informação custam-lhes quase o mesmo que uma. Portugal terá sido dos primeiros países a esticar os noticiários por serem mais baratos que novelas ou concursos. Nos EUA está a acontecer agora. O talk show de Oprah Winfrey foi substituído em canais que o compravam por noticiários locais.

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O lançamento dos canais noticiosos, paradoxalmente, não diminuiu os noticiários dos generalistas, antes os aumentou: com dois canais para encher com material informativo, os operadores repetem as peças nos dois, assim diluindo custos.

Consequências? Primeira, um afunilamento dos géneros disponíveis na TV generalista. Segunda, o esticar da duração de cada notícia para o dobro. Terceira, inclusão de muitas peças sem interesse jornalístico. Quarta, perpétua repetição de peças dos noticiários da véspera, manhã, tarde e noite. Em resumo: perda de qualidade.

Há também consequências sociais e psicológicas. Se é inegável a importância da informação para o empoderamento dos cidadãos (somos menos enganados pelas instâncias de poder), também é certo que mais informação gera desassossego individual e colectivo. Para o londrino Morning Chronicle, no século XIX, o descontentamento dos trabalhadores era "mais uma prova da superior informação" à sua disposição do que da deterioração da sua condição. Ou, como dizia então um sábio indiano sobre o primeiro media de transmissão instantânea de notícias: "Não gosto do telégrafo porque as más notícias chegam demasiado depressa."

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A VER VAMOS

OS NOSSOS IMPOSTOS PARA A REDACÇÃO DA RTP SE VER LIVRE DE MÁRCIA

Márcia Rodrigues vai para correspondente da RTP em Washington. Vai ser uma alegria: gritaria, histeria e jornalismo pela rama a chegar--nos do lado de lá do Atlântico todos os dias. Pagaremos com os nossos impostos os gritos, sensacionalismo de rua e o sossego nos corredores da redacção em Lisboa. Quando entrevistou o embaixador do Irão em Lisboa e depois o ditador do país num directo inútil ainda por explicar, Márcia vestiu-se de muçulmana submissa, uma vergonha para as portuguesas e para o jornalismo, facto que lhe deve ter dado boa nota no júri da RTP, onde muito se aprecia o sensacionalismo. Se a Casa Branca cometer a loucura de a deixar entrevistar Obama, lá a veremos vestida de Marilyn ou de Madonna.

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JÁ AGORA

COMO MATAR IMPRENSA E RÁDIO

Quinta-feira, as audiências da véspera — dia de jogo — chegaram aos canais, anunciantes e agências às três da tarde, em vez das 08h00. Há meses, os operadores fariam comunicados escandalizados. Agora, calam-se. SIC e TVI andam felizes com a inflação de audiências. E a rádio e os jornais perdem receitas porque a publicidade vai toda para TV com audimetria criativa.

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