Carlos Rodrigues

Diretor

"Com a flotilha, o Bloco ultrapassa as autárquicas sem dano de maior"

02 de outubro de 2025 às 00:32
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Confesso que sempre estranhei as críticas de uma certa esquerda a Mariana Mortágua por causa da aventura da flotilha. A líder do Bloco tem sido tratada com alguma sobranceria intelectual na avaliação da iniciativa de se meter a caminho de Gaza com ajuda humanitária e para denunciar a ação de Israel. Na verdade, esta aventura retoma a tradição de um movimento político de esquerda, rebelde, irrequieto, ousado, sarcástico e interventivo, que nasceu no PSR das campanhas eleitorais de Francisco Louçã, e que depois se transformou no Bloco de Esquerda. O partido sentiu o aroma do poder, mas depois desgastou-se, perdeu a maré da História, envelheceu, e quase desapareceu do Parlamento nas últimas eleições. É por isso, no mínimo, bizarro que se critique a líder do Bloco por causa de uma ação política que faz todo o sentido na tradição do partido. Estranho e criticável é o Governo reconhecer a Palestina e fazer diplomacia só para as redes sociais, como aconteceu recentemente. O Governo não pode ser Bloco. O Bloco ser Bloco é o mais normal possível, e louvável, para os equilíbrios políticos nacionais. Mas há outro benefício da flotilha. Ontem à noite, Mariana Mortágua teve o efeito habitualmente produzido numa noite eleitoral, ao ter tempo de antena e destaque televisivo, ao ouvir “mãos ao ar!” em direto para o País. A flotilha fez o Bloco ultrapassar as autárquicas sem dano de maior, um ato eleitoral sempre tão difícil para os bloquistas. 

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