"Um relato horroroso da falência total dos serviços do Estado"

O relatório sobre o acidente do Elevador da Glória é um retrato avassalador da falência dos serviços do Estado. Ficamos a saber que, muitas vezes, o cidadão é um joguete nas mãos do destino, totalmente abandonado à sua sorte e à mercê das mais variadas falhas, omissões, incompetências e negligências. Do que se percebe com uma leitura, mesmo apressada, do texto sobre as causas do acidente, de cada vez que um passageiro entrava no elevador estava a arriscar a vida numa espécie de roleta russa permanente, um milagre diário que foi adiando a tragédia, até um dia. Os cabos que sustentavam a carruagem não eram os mais apropriados, na verdade não deviam estar ali nem deviam ser utilizados. A inspeção era feita a olho nu. A manutenção e a limpeza não estavam entregues a pessoal especializado. Os travões não eram testados nem validados. É uma autêntica lista de horrores que destrói toda e qualquer réstia reputacional da Carris. Cabe agora ao poder político que tutela a empresa varrer de imediato todos os dirigentes que brincaram desta forma com vidas humanas e que passam a estar sujeitos à responsabilidade criminal pelo que se passou naquela tarde na Baixa de Lisboa, até porque é a própria existência da companhia que fica em causa, muito provavelmente a exigir uma refundação profunda.