Rui Moreira
Presidente da Câmara Municipal do PortoO tic-tac da cidade
20 de março de 2016 às 01:45Fazer cidade não é, nos dias de hoje, sinónimo de construção civil. Sobretudo numa cidade como o Porto, com menos de 42 km2 de área já densamente urbanizada. Fazer cidade é hoje compatibilizar os interesses que se cruzam na malha urbana, nos negócios, na educação, na saúde, na segurança, na coesão social, na habitação, na mobilidade.
A imagem paradigmática do autarca que inaugura rotundas e viadutos – que creio ser exagerada e muitas vezes injusta – está, por isso, esgotada. Os autarcas entendem hoje muito bem que têm que ser eles os gestores de interesses, os defensores de bandeiras, os impulsionadores de dinâmicas e os criadores de conteúdos.
Ao longo de dois anos e meio de mandato na Câmara do Porto, o meu executivo já mexeu em alguns aspetos importantes da cidade. Não os enumero, além de fastidioso, o leitor diria de alguns, serem insignificantes. Mas serão insignificantes? Se imaginarmos a cidade como uma máquina bruta e insensível, a quem uma roda dentada empenada não faz diferença, talvez. Mas não são, se pensarmos a cidade como um relógio antigo, nobre e delicado, mas determinado, no seu caráter, a modernizar-se e a cumprir com o seu rigor.
Esta semana, a Câmara decidirá sobre dois dos assuntos que sustentam o funcionamento desse relógio. Na limpeza urbana e recolha de resíduos, vamos mudar o paradigma, acabar com as concessões e fazer do Porto uma referência.
Decisão muito estudada com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com respeito pela cidade e pelos colaboradores. E pelos dinheiros públicos também. Pois é o ambiente um dos maiores consumidores de recursos num município. No transporte turístico, vamos enfrentar a anarquia que, a título da dinâmica económica que o setor do turismo representa hoje, tudo faz, sem regra e sem respeito, atropelando a vida a que os cidadãos têm direito.
O turismo é, repito, muito importante. Mas não pode, por sê-lo, condicionar a vida dos cidadãos, com veículos poluentes que abusam da via, destroem património e infernizam o trânsito, sem troco ou contrapartida. As alterações que vamos debater e aplicar, se funcionarem realmente bem, rapidamente desaparecerão da consciência dos cidadãos, que darão os ganhos como direitos adquiridos. E são. Passarão a ser apenas mais duas rodas dentadas que contribuem para o tic-tac da cidade. Sem alarme.
TAP - Caixa Negra
Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, em Portugal não é muito comum fazer-se este tipo de trabalho. Sobretudo, não é normal, em tão pouco tempo, pôr nas bancas um livro de atualidade. Mas graças a dois fins de semana quase sem dormir e ao empenho da editora Almedina, consegui fazê-lo, com a ajuda do meu adjunto Nuno Nogueira Santos, e o prefácio do meu ex-mandatário Luís Valente de Oliveira.
O livro, ‘TAP - Caixa Negra - Os bastidores da "guerra séria" entre a TAP e o Porto’, será lançado na terça-feira, às 19h00, no auditório da Fundação de Serralves, no Porto, com a apresentação de António Lobo Xavier. A entrada é livre. Tal como na quarta-feira, em Lisboa, dia em que Miguel Sousa Tavares o apresenta, comigo, às 18h30, na livraria da editora no Atrium Saldanha.
Três anos e 100 mil seguidores
Faz hoje três anos que apresentei a minha candidatura à Câmara do Porto, no Mercado Ferreira Borges. Logo a seguir, abrimos a página de Facebook, que, assim, está também a comemorar três anos e, simultaneamente, atinge 100 mil seguidores permanentes, sem qualquer recurso a publicidade ou aos truques de compra de ‘likes’. E não deixa de ser admirável como nesta página se consegue, três anos depois, continuar a debater a cidade com elevação e sem receios.
A propósito, reparei que também o meu homólogo de Lisboa, o portuense Fernando Medina, tem uma página semelhante, onde discute com os munícipes as suas decisões e vivências. Faz bem, e demonstra que a política está, aos poucos, a ficar diferente.
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