Leonor Pinhão

Escândalo e castigo

16 de dezembro de 2017 às 00:30
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O diretor de comunicação do Porto disse que o ‘caso dos e-mails’ é "o maior escândalo de sempre do futebol português". Mas se fossemos a votos quanto a essa matéria e se andasse perto da verdade o que afirmou o antigo guarda-redes do Benfica e do Brasil sobre as preferências clubísticas dos portugueses, logo teríamos que o caso do ‘Apito Dourado’ seria o avassalador triunfador da eleição para "o maior escândalo de sempre do futebol português". Ainda bem que estas desonras não vingam em sufrágios populares.

É às autoridades judiciais que cabe decidir se é escândalo ou se é crime e são coisas diferentes. Aliás, não é por acaso que o célebre romance de Dostoievski se chama ‘Crime e Castigo’ e não ‘Escândalo e Castigo’.

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O facto de um conjunto de e-mails privados ter sido divulgado pelo Porto Canal e depois disponibilizado através do correio eletrónico de um serviço de dados na Nova Zelândia configurará um crime de ataque informático para uma fação, enquanto para a fação adversária o crime não será propriamente o da devassa mas o do conteúdo dos emails. Já houve no futebol português, e bem recentemente, situações parecidas e que não conseguiram ver-se promovidas do estatuto de escândalo com que foram apresentadas à sociedade ao estatuto de crime que por certo mereceriam.

Em fevereiro de 2013, um industrioso assaltante levou da sede da FPF os computadores pessoais dos presidentes da direção e da comissão de arbitragem daquele organismo e, entre setembro e dezembro de 2015, uma organização anónima a que se deu o nome de Football Leaks disponibilizou através de um site russo documentação dos três grandes.

Do Sporting sairia o contrato de Bruno Paulista intermediado pelos angolanos do Recreativo de Caála, do Porto ficou- -se a conhecer a existência de uma joint venture com terceiros para a aquisição ao Marselha do passe de Imbula, que o clube não teria comunicado à CMVM, e do Benfica veio a lume a garantia de receitas dadas na aquisição total do passe de Ola John.

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O Sporting apresentou queixa na PJ por "devassa" e o seu presidente considerou ser aquele "um problema de confidencialidade" afirmando que "alguns dos documentos são verdade", outros "manipulados" e outros "uma mentira".

Não muito diferente, na realidade, do atual discurso oficial e oficioso do Benfica sobre a matéria corrente. As pessoas gostariam de ver este caso da pirataria-2017 escrutinado rapidamente pelas autoridades, na forma e nos conteúdos, mas sabem que vão ter de esperar porque os casos originais da pirataria-2013 e da pirataria-2015 ainda estão sabe-se lá onde. É pena.

Um "momento de tristeza" aqui e outro "momento de tristeza" ali

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Na Europa, o Benfica somou seis momentos de tristeza que lhe valeram uma humilhação, na Taça de Portugal bastou a tristeza de quarta-feira para os campeões da prova se despedirem e no campeonato, com um momento de tristeza aqui e outro momento de tristeza ali, segue o Benfica a 3 pontos de distância dos líderes.

Não é muito ponto, tendo em conta o que falta jogar até maio, mas é muito ponto se constatarmos a ineficácia do jogo dos atuais campeões nacionais e o misterioso comportamento-padrão de um Benfica que frequentemente marca, recua e acaba por tropeçar. Aconteceu assim no Bessa, no Funchal, na Luz com o CSKA e quarta-feira em Vila do Conde. É padrão a mais.

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