Luciano Amaral

Professor universitário

Incorrigíveis

04 de setembro de 2017 às 00:30
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Deve ser sinal de desenvolvimento: chegaram a Portugal as intratáveis discussões politicamente correctas típicas dos países desenvolvidos.

O célebre caso dos manuais escolares fez-nos afocinhar no mesmo charco.

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O politicamente correcto adora a picuinhice, sempre acompanhada de grandes diatribes sobre um passado de opressão: a propósito daqueles livrinhos inócuos, repetiram-se proclamações sobre como há um século as mulheres não podiam votar ou como, no Estado Novo, tinham direitos diminuídos.

Pois é verdade, e nunca como nesses tempos se justificou a luta pela igualdade dos sexos.

Mas também é verdade que, no mundo ocidental, a segregação no voto há muito que desapareceu (aliás, há um século, não eram só as mulheres que não votavam, era a maioria dos homens) e também é verdade que a nossa democracia já vai para meio século de vida.

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Há argumentos que deviam prescrever, que é para ver se avançamos: como se as brutalidades da Igreja Católica se justificassem pelo facto de os primitivos cristãos terem sido perseguidos.

Uma coisa devia ser clara: nunca houve na história da humanidade civilização como a dos países ocidentais de hoje, em que a segregação civil e política por sexos tenha desaparecido por completo em termos formais.

Mas o politicamente correcto, na sua irreprimível tendência para abrir portas abertas, insiste, esquecendo que isso não é verdade na maior parte do mundo.

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Os problemas de discriminação que existem devem ser discutidos dentro da civilidade política que a democracia permite.

A vigilância censória em que estas pessoas se especializaram é que lembra outros tempos.

Para além de que esquece o regresso da discriminação feminina por outras vias: em vez dos manuais escolares, onde está a indignação contra a mutilação genital, a poligamia ou os códigos de vestuário discriminatório, ilegais mas praticados correntemente?

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