Há muito tempo que comunistas e esquerda radical gostam de projectar os seus sonhos e fantasmas na América Latina. A razão para isso talvez seja porque em muitos países da região (mas não todos) não se encontra uma direita seriamente democrática: nos melhores casos, há um caciquismo extremo, nos piores, a simples brutalidade autoritária. É o que coloca essa esquerda no seu meio favorito: à injustiça social soma-se a política e tudo é permitido no combate político.
Mas a verdade é que isto esconde um problema desse tipo de esquerda: eles nunca tiveram uma solução política democrática, pois sempre viram a democracia como um formalismo que perpetuava injustiças sociais. O resultado desta maneira de pensar foi que, em todo o lado em que comunistas e esquerda radical governaram, instauraram o autoritarismo e, pior, fizeram desaparecer antigas injustiças sociais para criarem novas. Isto é verdade na URSS, na China e em todos os casos em que se queira pensar.
E é verdade na Venezuela. Haveria pouco a defender da Venezuela pré-chavista: caciquismo, corrupção, injustiças sociais brutais. Mas também há pouco a defender na Venezuela chavista. Excepto para o nosso PCP, que adora aquilo que lá se passa. Mas não é só ele. Para dar dois exemplos, a esquerda independentista catalã acha o mesmo e o antigo presidente da câmara de Londres, Ken Livingstone, pensa que o problema da Venezuela é Chávez não ter morto todos os "oligarcas".
Mesmo o nosso BE navega em águas turvas: condena Maduro (algo ambiguamente, diga-se) para logo ressalvar que ele é uma perversão da justiça revolucionária inicial de Chávez. É um velho tema: Lenine era bom, Estaline é que foi mau, etc., etc.
Mas desde o início que Chávez subverteu a democracia: nunca teve coragem para acabar com ela, mas sempre minou o seu funcionamento. Maduro é apenas uma conclusão lógica.
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