Donald Trump não venceu as eleições americanas apenas contra Hillary Clinton e o Partido Democrata (PD) mas também contra o Partido Republicano (PR), e por duas vezes: primeiro, quando arrumou com todos os favoritos nas primárias e, depois, quando ganhou apesar de o partido o ter abandonado na sequência do vídeo "agarro-as pela…". Isto exige perceber no que se transformaram os partidos americanos.
O PD é, desde há uns anos, uma colecção de minorias: os negros, os hispânicos, as mulheres, os homossexuais, as lésbicas…, tudo enquadrado por uma elite milionária (de que fazem parte muitas minorias) instalada na política, na finança e nas ‘novas tecnologias’. O ponto comum a estes grupos é definirem-se contra o homem branco, seu suposto opressor. O PD abandonou assim uma sua clientela tradicional: a classe operária industrial branca do Midwest, que ainda por cima atravessa uma terrível fase de decadência.
Mas o PR também não tinha nada para lhes dizer. O PR tem-se entretido nos últimos anos com uma agenda de ‘guerra cultural’, contra o aborto e a homossexualidade e pela reintrodução da religião na política, ao mesmo tempo que procura desencantar as suas próprias minorias étnicas. Para muita gente isto não passa de um exotismo irrelevante (e até irritante).
Trump encontrou temas gerais e transversais que cortaram a eito através da segmentação de eleitorado (certamente vinda das melhores técnicas de marketing) em que se meteram os partidos americanos. Dito isto, a vitória não transformou Trump, de repente, num bom candidato: as suas diatribes contra a NATO (uma garantia da segurança do Ocidente) ou contra a globalização (um elemento da prosperidade do Ocidente) e o seu tom genérico autoritário preocupam.
Se virá a ser um bom presidente depende da forma como traduzir a sua campanha caótica em acção política. Agora é esperar.
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