Eduardo Cintra Torres

O populismo e a defesa do “sistema”

29 de janeiro de 2017 às 00:30
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De repente, o populismo ameaça o planeta. Tudo o que não encaixa no sistema democrático tal como controlado pelos mesmos de sempre – é populismo. A vitória de Trump e a hipótese de vários partidos de "esquerda" ou "direita" na mesma onda ganharem eleições na Europa fazem soar alarmes. Muitos dos que gritam "populismo!" lembraram-se de Santa Bárbara quando trovejou. Ter apoio popular porque, à "direita", se deseja pôr termo à emigração descontrolada? Populismo. Ter apoio popular porque, à "esquerda", se quer alternativas aos excessos do capitalismo especulativo? Populismo. Até se vêem laivos populistas na razoável "táctica dos afectos" de Marcelo. Mas não se acusa de populistas todos os políticos que prometem em eleições o que não tencionam cumprir. Ou os que usam os media em palhaçadas, como Obama, para manter a popularidade.

Na verdade, a maioria dos que pretendem a simpatia popular – políticos, actores, concorrentes de reality cabaré show — é "populista", pois quer ficar na ribalta ou fazer negócios mais de acordo com objectivos pessoais ou grupais e menos de acordo com os interesses daqueles que conquista com a "simpatia".

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Muitas análises sobre o populismo têm o problema grave de assumirem os interesses de quem ocupa o poder e se sente ameaçado por concorrentes em ascensão. Não tomam em conta reais anseios da maioria, com os quais se pode concordar ou não e que podem ser errados (o povo não tem sempre razão).

Visam defender o castelo do "sistema", amiúde contra interesses e anseios da população. Consideram sempre como populismo a acção de saltar por cima das instituições estabelecidas para comunicar directamente com a população. Foi o que fez Trump: ganhou contra os media "sistémicos". Mas, se esses media eram (e são) de facto apoiantes de Clinton e do "sistema" que ela representava, onde está o populismo? Se Trump cumprir as promessas, onde está a base inabalável do conceito prevalecente de populismo? Os nossos media deveriam estar mais atentos ao que se passa nos EUA para lá da babugem mediática e da guerra entre Trump e media "sistémicos" (que têm justas razões de queixa). Por exemplo, a maior central sindical americana, que apoiou Hillary Clinton, já manifestou grande satisfação com medidas de Trump. Ora, quando o povo é "populista", onde está o populismo? Essa é a questão: o povo também faz política e a sua política pode não coincidir com a do "sistema", como aconteceu nos EUA e vai acontecendo na Europa. Convinha dar atenção aos interesses e anseios populares, antes que, ao despejar a banheira "sistémica", alguém deite fora o bebé democracia.

A Ver Vamos: Provedor na RTP - Perdemos a votação? Anulamo-la   

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O dono da RTP, Artur Silva, propôs ao Conselho de Opinião (CO) para provedor do ouvinte o nome de João Paulo Guerra. O CO, que reúne pessoas das mais diversas origens, ouviu-o. Depois, como sempre faz, votou. Chumbou-o, por 15 contra 12 e um voto branco. O Estatuto da RTP diz que o CO deve fundamentar a sua decisão. No caso, não era possível explicar, porque os membros não verbalizaram opiniões.

Começou o sururu. PS, PCP e BE não esperavam o veto. Querem anular a decisão. O PCP, que gosta tanto de votações democráticas como eu de baratas fritas, chamou o assunto ao parlamento.

A questão está em que o CO só pode fundamentar em palavras a decisão pelo próprio resultado da votação. A votação democrática é a própria fundamentação. Prevalece. Mas há quem deteste as votações que perde, como Lenin, que, perdendo as primeiras eleições livres na Rússia em 1917, dissolveu o parlamento e tomou o poder. Ainda temos tanta gente que odeia a democracia.

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Já agora: Nem a "vaga de frio" aumentou a audiência

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