O marisco do Eusébio

Eusébio beberica um whisky e tasquinha uns amendoins enquanto espera pelo Presidente Mário Soares. Está nervoso. Prepara-se para se sentar ao lado do Presidente num programa de TV. "O que é que eu vou falar?" Tentam sossegá-lo mas o nervoso miudinho não passa. É histórico aquele dia de 1994, quando duas das figuras portuguesas então mais conhecidas no mundo se apresentam juntas pela primeira vez frente às câmaras, no programa 'África Aqui', da TVI. Soares chega atrasado. Ficam os dois à conversa nos bastidores. Soares, eterno descontraído, elogia Eusébio. "Você é uma lenda! É muito mais conhecido do que eu!" Eusébio gagueja, sem palavras. Está combinado que se vai falar de África. Soares, que não percebia grande coisa de futebol, pega no braço do craque. "Ó Eusébio! Conte lá essa história do tremoço e do marisco!" Eusébio sorri, meio envergonhado. Contava-se então como piada, com deselegante sobranceria, que Eusébio achava que tremoço era marisco. Na altura, anos 60, logo após a chegada do jovem Eusébio a Lisboa, os jogadores juntavam-se nas cervejarias para se empanturrarem de camarões ou sapateiras. O marisco era caríssimo e os rapazes, agora com dinheiro no bolso, tiravam a barriguinha de misérias. "Senhor Presidente! Isso do marisco era piada do Hilário e do Coluna!" Eusébio juntava-se nos jantares com os compatriotas moçambicanos Hilário, glória do Sporting, e Mário Coluna, respeitado capitão do Benfica. Vinham pratadas de camarões e Eusébio virava a cara. Pedia tremoços. Brincalhões, os colegas futebolistas inventaram um irónico pedido aos empregados. "Traga aí o marisco do Eusébio!" E porquê tremoços? Eusébio explica. "Lá em Moçambique o que davam com a cerveja era camarões. Estava enjoado de camarões! O que eu nunca tinha provado era tremoço! E gostei do tremoço!" Soares desfaz-se numa gargalhada. Tinha razão Eusébio. O marisco é péssimo para o colesterol e o tremoço, rico em fibras, tem três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca.