Eduardo Dâmaso

Jornalista

A condenação de Sarkozy

27 de setembro de 2025 às 00:31
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Por cá, o crime de financiamento político foi sempre visto como uma bagatela penal. Durante anos sem criminalização, passou a crime público em 2010, andou em bolandas entre uma competência administrativa de entidades diversas e o poder próprio do Ministério Público para investigar em termos penais. A grande metáfora da disfuncionalidade do regime está numa decisão recente de arquivamento de um processo, do DIAP de Braga, que declarou existir financiamento ilícito na Festa Europa do PSD, organizada por José Manuel Fernandes e Paulo Rangel, mas ilibou estes ministros, então eurodeputados, por considerar que não tinham consciência da ilicitude. Argumento insólito no caso de Rangel, que é professor de Direito. Lá por fora a coisa fia mais fino, como se vê agora com a condenação de Sarkozy a cinco anos de prisão. O tribunal deu como provado que Sarkozy montou uma associação criminosa, quando era ministro, para obter generosos financiamentos do líder líbio Khadaffi. Provas indiretas, forte convicção do tribunal, testemunhos muito claros de alguns dos envolvidos, uma sentença blindada. Sarkozy usou a fórmula do seu amigo Sócrates. Trata-se de uma cabala, não há provas, é tudo uma fantasia. A vitimização sempre fez parte da cartilha dos arguidos ilustres, mas os tribunais há muito que conhecem a cantiga, Também há muito que sabem que sem independência judicial a democracia morre na escuridão da mentira. 

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