A liberdade dos meios de comunicação e a separação de poderes são um insuperável cimento da democracia. Goste-se deles ou não, podem dar as voltas que quiserem mas não há outro caminho para esta constatação óbvia. Ao longo dos últimos anos, André Ventura tem respeitado esta asserção e tem beneficiado disso na construção de uma parte da sua imagem política. Desde logo, distanciando-se de episódios lamentáveis protagonizados por António Costa ou Luís Montenegro, mas, sobretudo, não mimetizando a retórica de populistas como Trump, que passa a vida a dizer que os jornais são lixo.
Na quinta-feira, porém, ao reagir ao seu ‘hamburguergate’, ultrapassou várias linhas vermelhas. Atacou os jornalistas em geral e a SIC, em particular, arvorando-se numa espécie de dono das perguntas e das notícias. Agitando teorias da conspiração e um alegado silenciamento, quando, paradoxalmente, é o político, de todos em funções, com menos razões de queixa. Incluindo isso, diga-se, algum ónus para os próprios media, acusados pelos outros partidos, à falta de melhor argumento destes e numa visão simplista das razões do crescimento do Chega, de levarem Ventura ao colo. O efeito desta conversa é claro: retira-se da condição de alvo da pressão criada pela gafe que cometeu, dispara contra tudo o que mexe, criando outros alvos para a sua clientela. Ventura brinca com o fogo mas também pode acabar queimado. Não pode valer tudo na política!
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