O mundo de André Ventura é pequenino, pavloviano, mergulhado numa espécie de angústia, bem escondida, ditada por alguma ânsia de reconhecimento. Freud deve explicar. Não consegue sair daquilo que se tem ouvido a toda a hora. Da gritaria dos bandidos, do miserabilismo isolacionista, da tentativa de mandar o aparato policial do Estado contra quem lhe mete medo. Contra quem encaixa, nas suas necessidades de construção de narrativas xenófobas, contra todos os elos mais fracos que o apoquentam. Ventura não existe sem polarização, sem maniqueísmo, sem ódio, sem uma retórica nacionalista pacóvia, sem uma liturgia popularucha de um alegado amor pátrio importada da mais rasca cinematografia americana. A sua paixão pela autoridade é uma elegia ao acefalismo. Está bem para chefe ideológico, ou coisa que o valha, daquela meia dúzia de espíritos perturbados que se juntam à volta de um ex-juiz e de dois ou três saudosistas do império e do salazarismo. Ventura é um mestre da tática politiqueira, mas não tem uma ideia de futuro. O mundo de Ventura é muito pequeno mesmo e não leva este País para nenhum sítio bom. Leva-o para uma versão anedótica de um trumpismo tuga, que nunca chegará onde o outro chegou. E esse é, felizmente, o grande benefício, a grande notícia, que tem para nos dar. Temos de agradecer-lhe com alguma comoção.
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