A notícia de que alguns dos crimes de Sócrates estão a prescrever, desde logo a falsificação do contrato da mansão de Paris, já só pode ser vista como uma comédia. Uma comédia burlesca sobre o próprio regime, não apenas sobre a justiça. Sobre os partidos, em particular o centrão formado pelo PS e pelo PSD alargado ao CDS, que legislaram uma teia impenetrável de hipergarantismo face à aplicação do código penal a amigos e conhecidos. Sobre esse legislador sentado em São Bento, que ofereceu a neutralização da justiça em bandeja de prata a quem tem o dinheiro suficiente para pagar a litigância arrastada no tempo e nas instâncias, que a faz resplandecer aos olhos dos arguidos ilustres, consoante a capacidade de cada um de pagar a fatura das custas, advogados e quejandos. Sobre os críticos que querem reformar a justiça apenas porque sim, como os senhores dos manifestos, que só estão incomodados com o Ministério Público e os jornalistas, não com a repetição destrutiva de casos destes, de Isaltino a Sócrates. A hipocrisia dos senadores antienxovalho fica a nu. Por fim, o próprio sistema de justiça, sobretudo a magistratura judicial e a sua gestão não ficam na melhor parte da fotografia. Quando assistimos a um jogo do empurra entre os juízes que não querem o processo, que andam entretidos em conflitos de competências, será difícil não enfiá-los no mesmo saco do burlesco corrente. É o que temos.
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