27% admitem mudar voto para a extrema-direita em sondagem
Voto num novo partido populista com maior abertura à direita.
Se em Portugal surgisse "um novo partido a falar alto contra imigrantes ilegais e contra a corrupção", o eleitorado das restantes formações políticas mudaria o sentido de voto? À pergunta formulada pela Aximage, no âmbito do barómetro de dezembro para o CM , cerca de 27% dos inquiridos responderam que sim, "de certeza", ou "talvez". A grande maioria dos inquiridos (63,1%), contudo, rejeitou liminarmente dar o voto a um partido apostado em ideias de cariz populista.
O investigador Jorge de Sá, um dos autores do estudo, evidencia que "esta hipotética mudança atinge particularmente os eleitores rurais e os menos escolarizados", mas é transversal, em maior ou menor grau, a todos os partidos.
É verdade que há uma maior percentagem dos que admitem mudar entre os partidos de centro-direita (PSD e CDS), mas mesmo aí a maioria (60%) recusou votar num partido com ideias partilhadas pela extrema-direita. Entre os socialistas, o número sobe para 72,4% e nos bloquistas 76% disseram não às ideias populistas. Já para os inquiridos que admitiram optar pelo PCP, 77,6% rejeitaram uma mudança de intenção de voto para um partido anti-imigração.
Face ao universo dos inquiridos, importa dizer que 63,1% recusaram liminarmente votar num partido populista.
O politólogo André Freire, docente no ISCTE, considera que o cenário de criação de um partido populista não é propriamente "um tema de grande saliência" no atual contexto político e social português, sobretudo quanto está em causa o tema das migrações.
Opinião semelhante é partilhada pelo professor de Filosofia e Ciência Política Viriato Soromenho-Marques, para quem "o problema da imigração não se coloca" enquanto fator que promova o populismo em Portugal. Já quando o que está em causa são práticas de corrupção, sublinha que, aí sim, se cria o caldo cultural para dar força a ideias extremistas.
DEPOIMENTOS
Jorge de Sá, Investigador e diretor da Aximage
Ameaça para "equilíbrio democrático" em Portugal
O principal alerta [desta sondagem] diz respeito ao [perigo para o] equilíbrio democrático com que a sociedade portuguesa tem vivido nos últimos quatro decénios, em que a extrema-direita não tem tido qualquer espaço.
Viriato Soromenho-Marques, professor de filosofia e política
"Populismo não é doença, mas a febre que a indica"
O populismo dá respostas simples a problemas complexos. Quando falamos de populismo não falamos de uma doença, mas da febre que indica a sua existência. O que sucede é que os políticos europeus, como Merkel e Macron, têm atacado a febre e não a doença.
André Freire, Politólogo
"Contestação à imigração tem pouca expressão"
O cenário da criação de um partido populista não é propriamente um tema de grande saliência no atual contexto político e social português, sobretudo quanto está em causa o tema das migrações, cuja contestação tem pouca expressão no nosso país.
PORMENORES
PS sozinho vence direita
Mesmo que PSD e CDS se juntassem, não teriam peso suficiente para retirar António Costa do poder. O PS reúne 37% das intenções de voto, acima dos 33,4% alcançados pelos dois partidos da direita.
Abstenção nos 33,4%
Se os portugueses fossem agora às urnas, um em cada três iria abster-se. A sondagem da Aximage para o CM mostra que a abstenção voltou a subir em dezembro, para os 33,4%.
Centeno é preferido
O ministro das Finanças, Mário Centeno, é considerado pelos inquiridos como o melhor ministro. O "Ronaldo das Finanças" reuniu 29,4% das preferências. Em sentido contrário surge o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, apontado por 21,2% dos inquiridos.
Todos baixam de nota e nem Marcelo escapa
Não há um único líder partidário que, de novembro para dezembro, não veja a sua avaliação descer no Barómetro da Aximage para o CM e ‘Negócios’. Só a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, conseguem ter nota positiva, embora perto da linha de água.
O secretário-geral do PS, António Costa, passa a ter negativa na avaliação dos portugueses, caindo de 10,6 para 9,7 valores. Na oposição, Assunção Cristas, do CDS-PP, é a líder partidária com melhor desempenho, com 8,1 pontos. O presidente do PSD, Rui Rio, surge distante, na última posição, com 6,4 valores.
Os inquiridos na sondagem da Aximage continuam a reconhecer qualidade ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. Contudo, pela primeira vez, o Presidente da República ficou abaixo dos 17 valores (16,8), confirmando uma tendência de quebra na avaliação que se verifica desde junho deste ano.
Eleitores do PCP mais avessos a mudanças
Os eleitores da CDU (coligação entre PCP e Os Verdes) são os menos dispostos a alterar o sentido de voto. 77,6% dizem que nunca mudariam para um partido anti-imigrantes.
Ficha técnica
Universo: indivíduos inscritos nos cadernos eleitorais em Portugal com telefone fixo no lar ou possuidor de telemóvel.
Amostra: aleatória e estratificada (região, habitat, sexo, idade, escolaridade, actividade e voto legislativo) e representativa do universo e foi extraída de um sub-universo obtido de forma idêntica. A amostra teve 602 entrevistas efectivas: 313 a homens e 289 a mulheres; 55 no Interior Norte Centro, 74 no Litoral Norte, 113 na Área Metropolitana do Porto, 118 no Litoral Centro, 165 na Área Metropolitana de Lisboa e 78 no Sul e Ilhas;101 em aldeias, 134 em vilas e 367 em cidades. A proporcionalidade pelas variáveis de estratificação é obtida após reequilibragem amostral.
Técnica: Entrevista telefónica por C.A.T.I., tendo o trabalho de campo decorrido nos dias 7 a 11 de Dezembro de 2018, com uma taxa de resposta de 73,6%.
Erro probabilístico: Para o total de uma amostra aleatória simples com 602 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,020 (ou seja, uma "margem de erro" – a 95% - de 4,00%).
Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem Lda., sob a direcção técnica de Jorge de Sá e de João Queiroz.
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