A demissão é já. E assim Pedro Nuno Santos durou 15 meses

Resultados históricos negativos, que só encontram paralelo na década de 1980, e uma derrota em toda em linha. Crónica de uma noite no Altis.

19 de maio de 2025 às 08:38
Pedro Nuno Santos Foto: Tiago Sousa Dias
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Sem contar ainda com os resultados dos consulados, o PS obteve 23% nas Legislativas de 2025, que se traduziram em 58 deputados e 1.394.491 votos. Em termos de percentagem e número de votos, é o terceiro pior resultado do partido, só superado pelas derrotas do PS face a Cavaco Silva em 1985 e 1987. Em termos de deputados, é para já a segunda pior marca de sempre do PS, só suplantada pelos 57 deputados que o partido obteve em 1985.

Em termos práticos, e pelo menos para já, o PS ficou à frente do Chega por uma unha negra. A humilhação eleitoral pode ser pior quando chegarem os resultados da Europa e Fora da Europa.

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Face a estes números, só restava uma opção: a demissão. "Decidi convocar eleições internas, às quais não serei candidato". Há várias horas que a demissão era comentada à boca pequena no hotel Altis, onde decorreu a noite eleitoral do PS. Também se comentavam as declarações de Sérgio Sousa Pinto numa televisão, logo no início da noite eleitoral, que "ou o PS acaba com esta direção, ou esta direção acaba com o partido".

Pedro Nuno Santos disse que era preciso tirar ilações sobre o que aconteceu, mas que ele não seria a pessoa indicada. Prova disso foi a insistência nalguns pontos da sua campanha. Por exemplo, relacionados com a AD: "A mim não cabe ser o suporte deste governo e penso que esse papel não deve caber ao PS. Luís Montenegro não tem idoneidade para ser primeiro-ministro"

Nesta altura, e depois de uma noite de semblantes muito pesados, a sala do Altis já estava cheia, sobretudo de jovens da JS, do núcleo duro da direção do próprio Pedro Nuno Santos, de anónimos militantes, de alguns clássicos (como Eduardo Barroso) e de figuras do PS autárquico de Lisboa. Por perto não havia rivais antigos nem hipotéticos. Duarte Cordeiro estava a comentar no Now, José Luís Carneiro ficou em Braga (onde era cabeça de lista e foi reeleito), Fernando Medina não apareceu.

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Quando Pedro Nuno Santos anunciou que ia sair do cargo, ouviu-se uma ou outra voz a dizer "não, não…", mas ninguém insistiu. O derrotado da noite anunciou que não queria ser um estorvo, que por ele saía já e que não queria complicar a vida ao sucessor. Foi o suficiente para a sala desatar a aplaudir.

Entretanto, as televisões mudaram para o discurso de André Ventura (sinal dos tempos, o PS não foi o último ou penúltimo a fazer o discurso da noite eleitoral) e o demissionário líder não explicou o que vai acontecer ao voto do PS na apresentação do novo programa de Governo da AD. Por ele, como deixou claro, será para votar contra. Mas ele já não deverá estar no cargo.

O voo de Pedro Nuno Santos no PS acaba assim ao fim de 15 meses com a derrota numa campanha eleitoral que tinha como slogan "O futuro é já" e durante a qual o demissionário líder jurou várias vezes que ia ganhar.

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